Mr. Domingues

Sempre ouvi que escrevo demais, e-mails longos, cartas intermináveis para namoradas, nunca consegui usar Post-it, enfim, bem ou mal eu gosto de escrever. A intenção é que isso aqui sirva como uma "descarga mental" onde comento fatos, acontecimentos e pensamentos, na verdade, tudo que me der vontade. Sabe quando se vê um filme, lê um livro ou algo no jornal e ficamos com vontade de discutir com alguém sobre o assunto? É pra isso que esse espaço serve, assim eu incomodo menos quem está à minha volta e começo a incomodar anônimos internet afora que queiram ser incomodados. Mas é claro que não vou fugir muito dos meus hobbies, interesses pessoais e profissionais, como saúde, atividade física, esporte, tecnologia e música.

domingo, 21 de março de 2010

Endless Summer.
Esse é o nome de um filme no qual os surfistas passam todo tempo viajando em busca de ondas e sempre é verão onde eles estão. Pra quem tem dinheiro ou é surfista profissional, é possível viajar sempre atrás do verão. Bom, mas pra quem não é surfista profissional (nem todo mundo é), o verão tem um fim sempre. Mas eu não falo desse fim astronômico que sai nos jornais - "amanhã às 14:32 acaba o verão", o verão tem vários finais, depende de quem vive o verão. Pra mim, diferente das outras estações, o verão costuma ter marcos que indicam que a estação do sol deu lugar ao outono.
Para alguns o final do verão pode ser o fim do carnaval, a volta às aulas (colégio, faculdade e depois do colégio das crianças), o final do horário de verão (que sempre acaba muito cedo), o final oficial da temporada de veraneio (pra quem mora em praia), o final das férias e o consequente retorno ao trabalho, o retorno da casa de praia pra cidade, etc.
Durante alguns anos o verão acabava quando as aulas iniciavam e me lembro que numa época isso sempre batia com o Garota Verão (concurso de beleza aqui do RS), normalmente o concurso acontecia no fim de semana que antecedia a volta às aulas do colégio. Depois o concurso mudou um pouco de época, as minhas aulas do colégio deram espaço às minhas aulas na faculdade (primeiro como aluno depois como professor).
Mas eu poderia dizer que desde o final da década de 90, o que marca o final do meu verão é uma prova de natação, a Travessia a nado entre São José do Norte e Rio Grande. Coincidentemente, muitas vezes essa prova ocorreu no domingo anterior a volta às aulas na faculdade, esse ano não foi diferente. E posso dizer que agora meu verão acabou oficialmente. Pela primeira vez essa prova deixou de ser “caseira” e passou a ter a chancela da FGDA (Federação Gaúcha de Desportos Aquáticos), o que garantiu a presença dos melhores nadadores do estado e elevou muito o nível da prova.
São 3600 metros em linha reta, mas ninguém faz em linha reta e, portanto todos nadam mais do que isso. É uma prova que sempre surpreende porque a água pode ser salgada ou doce, quente ou fria, verde ou marrom e as correntes (pelo menos duas) mudam de intensidade e até de direção a qualquer momento, inclusive durante a prova.
Atravessei a nado o canal entre as 2 cidades pela 12ª vez, fazendo um dos meus piores tempos. Mas isso é um sinal de que existe justiça, afinal a cada ano estou menos jovem, tive muitas cãibras, as correntes esse ano estavam fortes, e eu também não estou no melhor do meu condicionamento.
Mas apesar do meu tempo, fico contente em ver que agora parece que essa prova realmente não morre mais. A maioria dos presentes hoje não sabe, mas essa prova iniciou em 1923, ficou parada muitos anos e foi resgatada em 1995 por Jaime Costa (já falecido, pai da nadadora Aline Costa que até hoje faz a prova). De lá pra cá apenas em 1999 a prova não foi feita por condições meteorológicas. Mesmo chegando atrás, é bom competir em casa e sinceramente o que me interessa é chegar vivo nessa prova. Já estou quase na fase de dizer pros primeiros colocados (que costumam ter menos de 17 anos) - “guri, tu me respeita hein, quando tu nasceu eu já fazia essa prova”. Falta pouco.

quarta-feira, 17 de março de 2010

Guns & Skids - melhor do que esperava.
Quanto eu tinha banda de rock (1989-1994) bandas como Guns and Roses e Skid Row davam o norte às bandinhas de garagem como a minha. Já tinha assistido ao Skid Row em PoA, mas Guns nunca. Assistir às duas bandas (mesmo que só os vocalistas sejam os mesmos) juntas num único dia, e ainda por cima no meu aniversário, era algo que eu não poderia perder. Bueno, a jornada para assistir ao show iniciou saindo de casa após o almoço, chegada a PoA, janta e saímos (eu e minha irmã) do hotel pouco depois das 18h. Chegamos de volta ao hotel após o show 4:40 da manhã. Encarar essas indiadas de quase 11h não é tão difícil, mas fazer isso menos de 48 horas após ter feito um triathlon de mais de 5 horas é meio dolorido, e não recomendo a ninguém. (conheço outro maluco que fez isso, né Michel) Pra chegar ao show, tumultos de sempre, engarrafamento, Freeway parada, caminhar no acostamento da BR no escuro, filas quilométricas. A área VIP só ficava diferenciada perto do palco mesmo, até lá todo mundo era povão, e eu tenho pavor de povão. A programação era: 19h - Tequila Baby (no me gusta); 20h - Rosa Tatooada (já gostei, mas dá pra aguentar numa boa); 21h - Sebastian Bach/Skid Row (gosto tanto ou mais do que do Guns em si); 22h - Guns n’Roses (atração da noite). A área VIP é muito tranquila, dava pra sentar no chão e descansar, 20h estávamos em frente ao palco (uns 50m), e eu falei pra minha irmã e um amigo de show (roqueiro, aposentado do Banco do Brasil): vai demorar umas 2h ainda, os caras estão subindo refletor, não tem bateria montada nem microfone no lugar. Muitos operários no palco e começam os rumores “as bandas gaúchas não vão tocar mais por causa do atraso”. 22h um cara pega o microfone e avisa: o atraso é devido ao tornado que atingiu o RJ e destruiu material do palco e dos músicos, em 1h o show começa (mas qual show?). Das 22h até às 23h montaram mais 2 baterias no palco, e eu pensei - vamos ter pelo menos 3 shows. 23:20, chega uma notícia pelo Blackberry de um “vizinho” - Axl Rose visto no aeroporto do RJ há poucos minutos. O povo começa a vaiar, os técnicos de som cada vez mais apavorados, nisso sobe uma loira bunduda no palco e bota ordem nos operários, a galera grita “pelo menos tira roupa, porra”. Pouco depois das 23:30 o pessoal do Rosa sobe ao palco e é vaiado, fiquei com pena dos caras. O vocalista (enrolado na bandeira do RS) avisa: estamos aqui desde cedo, esperando, mas deu tudo errado, mesmo assim queremos tocar pra vocês. O nosso guitarrista foi embora indignado. Eles tocam 3 músicas em meio a aplausos e vaias, mas tocar com um músico a menos e sendo vaiado por muitos deve ser f@#%.
10 minutos de Rosa Tatooada, 20 minutos pra desmanchar o equipo deles e Sebastian Bach sobre ao palco, abrem com Slave to the Grind exatamente às 12:01, quando já era meu aniversário. A empolgação dele no palco segue a mesma desde a década de 90, a voz não é a mesma, mas sinceramente na época do auge dele vi shows em que ele estava bem pior do que ontem. Também não dá pra dizer que ele tá uma Barbie velha e gorda, ele segue com os mesmos trejeitos e aquela girada de microfone pelo fio. Ah, ele levou um tombo no palco, escorregou, mas levou numa boa. Tocaram por 1h15’ e deram ao público quase tudo que se esperava (In a darkened room, Youth gone wild, 18 & life, I remember you, Monkey Business, etc.) e uma meia dúzia de músicas da carreira solo dele. Durante o show ele explicou o atraso. Parte do palco foi destruída no RJ e inclusive instrumentos deles foram perdidos, ninguém se machucou, mas até instrumentos do pessoal do Guns eles tiveram que usar. Bom, essa é a versão oficial para o atraso todo. Tinha uma moça de origem “duvidosa” ao lado do palco, filmando o show, e o Sebastian vai até ela, dá um beijo na loca, leva ela até a frente do palco, ela filma ele em close, ele dá uns tapas na bunda dela, tasca outro beijo e manda ela embora. Notável a diferença na empolgação dos músicos do Sebastian ao tocar as músicas antigas do Skid Row, eles estavam muito mais motivados para tocar o material novo, do qual eles realmente fizeram parte. Até o final do show eu não sabia se era um baixista ou uma baixista. Sebastian encerra com Youth Gone Wild. Mas a essa altura (1:20 da manhã) o frio tava pegando e o cansaço então nem se fala. Eu já estava com as pernas cansadas da competição de domingo, em pé cansava, sentar no chão também, sola dos pés doendo, enfim não tenho mais idade pra isso, só de VIP mesmo. Tinha jantado às 5 da tarde, o que me mantinha em pé era ver o pessoal da pista, apertado contra a mureta e pensar que eles estavam ali imóveis desde as 4 da tarde. Eu pelo menos tinha chegado de noite, podia sentar no chão, ir ao banheiro tranquilo, etc. ao meu lado um grupo de 4 crianças (menos de 12 anos) com suas respectivas mães, todo mundo caindo de sono. Perto da 1:40 da manhã o palco se ilumina, telões acendem, fundo vermelho com direito a guitarrista no alto e guitarra de 2 braços (ambos com 6 cordas, mas o superior era fretless - quem sabe o que é isso, sabe, pra quem não sabe, não faz diferença) e eles abrem com a música Chinese Democracy (que dá nome à turnê e ao último disco) e emendam com aquele inconfundível delay distorcido em Si, mostrando que Welcome to the jungle estava iniciando o show pra valer. A qualidade do som do palco foi melhorando progressivamente, do primeiro pro terceiro show.
Bom, não vou descrever o show (deve ter um monte de blog por aí fazendo isso), mas apenas a minha impressão de músico/fã. Foram mais de 2 horas de show e nenhuma grande decepção musical (tanto no repertório quanto qualidade). Decepção mesmo só o atraso, mas isso foi um espetáculo à parte. Diferente das críticas que li anteriormente, o Axl, apesar de estar parecido com o Mickey Rourke depois da plástica, não está obeso e sem voz. Creio que depois do show de Brasília eles deram uma equalizada na voz dele, mas em algumas músicas dava uma reverberada que ficava muito estridente. A voz dele já é esganiçada e muitas vezes fica no limite do insuportável, talvez alguma coisa no eco da voz ou graves/agudos. Mas vi inúmeros shows dele (vídeo) e não dá pra dizer de jeito nenhum que ele tá acabado (o mesmo vale para o Sebastian). Com certeza, ele tá mais gordo, não rebola mais daquele jeito (who cares?) e não alcança os mesmos timbres. Mas diferente das críticas que li por aí, a minha crítica vai pra banda.
Eles fizeram uma jogada de marketing muito esperta. Com a saída do Slash, eles evitaram colocar a formação clássica de guitarristas (um solo e um base) porque inevitavelmente o guitarrista solo seria comparado ao Slash. Pra evitar isso, eles colocaram 3 guitarristas que fazem de tudo um pouco, dividindo assim a atenção do pessoal. A questão é que dos 3, apenas um parece ter encarnado o espírito do Gn’R, os outros dois parecem mais saídos de uma banda Emo e se eu visse uma foto acharia que são do Fresno ou algo similar. E a inclusão de músicas-solo dos 3 guitarristas mais desanimou do que agradou. O baixista faz o que tem que fazer e não fede nem cheira. E o baterista, apesar de ser um músico bom, não tem o mesmo peso que os dois anteriores tinham, principalmente Matt Sorum. Ele me pareceu um baterista de formação mais para pop/jaz do que para rock/metal, tecnicamente bom, mas faltava peso (punch) na marcação e nas viradas.
O show encerra com um bis de 3 músicas, e uma segunda volta ao palco para cantar parabéns para 2 gurias que estavam de aniversário, mostrando faixas e subiram ao palco. Bom, de certa forma posso dizer que o parabéns era pra mim também, mas mesmo que eu estivesse com uma faixa, acho difícil o Axl mandar os seguranças me subirem ao palco. Eu pelo menos nunca vi roqueiro pedir pra carregar homem pra cima de palco, e isso não muda seja o astro novo, velho, magro ou barrigudo, acho que eu não tinha chance mesmo. Próxima parada: Aerosmith (maio, SP).
Pinhal 2010 - Race Day.


Acordei 5:30, a chuva parou. Dormi muito bem, sem ansiedade. Ritual pré-competitivo normal (comer muito, beber muita água em cima, escovar os dentes, ir ao trono, conferir as coisas pela enésima vez, ir ao trono, protetor solar). Saí do hotel 7:25 e fui de bike até o local da prova, encontrei os guris já no check-in. Realmente não liberaram neoprene, a água estava a 24 graus.
Esse ano a prova contou com um fator que eu não tinha visto até hoje em Pinhal, o vento. Mas era vento mesmo, antes das 8 da manhã a lagoa já tinha onda e com o passar do dia só piorou. Por ser de Rio Grande e estar acostumado ao vento, eu queria vento, mas aquilo era sacanagem.
Largada tranquila, muita marola, cheguei na primeira boia uns 20 segundos após a dupla que liderava (Lucas Pretto e Frank Silvestrin). O trajeto mais longo entre as 2 boias estava horrível. O vento fazia ondas de até 30 cm e respirar olhando pra frente era certeza de “engolir” uma onda. Parei 3 vezes durante a natação para estalar minha coluna e mexer nos dedos do pé, como medida preventiva. Fiz um tempo ruim (33’), mas acho que todo mundo foi um pouco mais lento devido às ondas. Pelo que pude ver (pelos ciclistas que passei na estrada) saí em oitavo da água.
Na bike comecei devagar e já largamos contra o vento. Pela primeira vez nessa prova minha coluna não incomodou em nenhum momento. Normalmente eu fico com os glúteos empedrados ao iniciar o pedal em Pinhal, mas esse ano nada aconteceu. Fiz a primeira volta com média de 29 km/h e fui aumentando 0,5 km/h na média a cada volta. Finalizei os 90 km com média de 31,2 - com um tempo 7 minutos pior que a minha melhor marca na prova (quando fechei média de 32,4 km/h). Mas pelo meu estado físico, meu treinamento esse ano e levando em conta o vento (que me fazia pedalar a 20 km/h em alguns trechos), acho que fui muito bem.
No meio da segunda volta eu encontro o Humberto pedalando, ele tirou uma bike do ônibus e ficou pedalando no circuito com os competidores, não sei como a organização da prova não mandou ele sair, acho que nem se deram conta. Ele fez uns 50 km com os atletas.
Acertei a nutrição na bike, mesmo sem ter levado um “plano”, mas fui no feeling e acertei. Pela primeira vez fiz xixi pedalando (ai que nojo) e tomei um banho de água pra lavar as pernas e a bike onde respingou, tranquilasso.
Fiz a transição bike/run mais rápida até hoje em Pinhal (1’49”) e como sempre iniciei a prova caminhando pra acostumar. Andei 2 minutos e iniciei um trote lento. Já na primeira volta senti como estava e disse pra mim mesmo num tom amigável - “se tu fechar cada volta em 25’ tá bom”. Consegui fechar cada volta em 23’ 25”. No meio da segunda volta meu joelho direito começou a incomodar bastante (Banda íleo-tibial), lesão antiga que aparece quando corro muito ou quando corro após pedalar mais de 2 horas. Comecei a alternar trote com caminhada e alongamentos e peguei um Advil com o Franco, que é da elite mas esse ano estava só assistindo a prova e gritando com os conhecidos (ele acabou de fazer a Corrida Torres/Tramandaí - 86 km sozinho). Dos 3 que estavam estreando na distância, todos estão de parabéns, mas tenho que destacar o Michel, que pegou terceiro na categoria. Ele pedalou muito bem e me alcançou no início da corrida. Pensei que ele fosse passar voando por mim, mas comecei a trotar de forma mais regular e ele ficou um pouco pra trás (no final ele chegou 4 minutos depois de mim - excelente pelo tempo de triathlon que ele tem). Apesar de não estar no meu melhor condicionamento, eu tinha obrigação moral de ganhar dos novatos né, mas o Michel me deu um bafo na nuca legal. Lá pelo final da terceira volta a dor pelo menos parou de aumentar e permitiu que eu trotasse parando menos. E nessa prova, quando eu completei a terceira volta disse pra mim mesmo - “tchê, agora deu, acabou, é só chegar, nem que seja caminhando”. Mesmo com esses empecilhos e paradas, fiz meu segundo melhor tempo na corrida de Pinhal (apesar de parar várias vezes e caminhar muito, fechei média de 10,8 km/h). E com certeza a dificuldade do vento no ciclismo deu um desgaste extra nas pernas.
Mas fiquei muito feliz em cruzar a linha de chegada, independente do tempo. Fazendo uma média entre as 4 vezes anteriores que eu havia feito a prova, fiz um tempo melhor que o esperado.

Média 2004-2008: 5h 31 min.
Tempo total em 2010: 5h 28'51"

Parciais (melhores tempos até hoje entre parênteses)
Natação - 33'14" (28'17")
Transição swim/bike - 3'45" (2'53")
Ciclismo - 2h 53' (2h 46')
Transição bike/run - 1' 49" (melhor até hoje)
Corrida - 1h 57' (1h 48')

Ao final da prova fui pra tenda de alimentação e fiquei com o Humberto esperando os guris chegarem. O Franco veio me dizer que estava preocupado comigo porque eu estava desfigurado, disse que eu deveria comer mais sal na prova. Expliquei que eu estava meio magro porque a mulher me largou, aí ele mudou de expressão, fez uma cara de quem já passou por isso e disse: “ah bom, então meus parabéns por ter completado, não foi falta de sal”. Na volta, por uma questão de segurança, o Kiko voltou comigo e despachamos a bike dele no ônibus do Humberto. Infelizmente, esse ano não tivemos fotos da competição, apenas do antes e depois, já que o Humberto assistiu toda prova mas é analfabeto em termos de máquina fotográfica.
Agora parece que o Kiko entendeu a diferença entre um triathlon como esse e uma prova curta. Numa prova curta, quando chegamos muito atrás dá uma sensação de derrota, numa prova longa como essa, do primeiro ao último colocado a satisfação é a mesma. Não faz a mínima diferença se demorou 4, 5 ou 6 horas pra chegar. A vitória nessa situação, pra gente normal como a gente, é simplesmente chegar.
Sequelas da prova no dia seguinte: coxas doloridas, joelho esquerdo doendo um pouco, joelho direito doendo muito. Outras versões da mesma competição podem ser lidas nos Blogs do Kiko, Michel e Pablo. E toda função da competição e viagem fica muito mais fácil e legal quando temos parceiros como eles. E Punta guris, ano que vem?

Pinhal 2010, o quinto (dos infernos) - Pré-prova
Domingo passado completei meu quinto Meio Ironman de Pinhal (1.9 km de natação, 90 km de ciclismo e 21 km de corrida). Pela primeira vez encarei essa competição viajando sozinho. O bom de viajar sozinho é que a gente pensa na vida, bota o som do carro bem alto e canta sem se preocupar com afinação. O lado ruim é que a gente pensa demais na vida e tem o perigo do sono, mas a viagem foi tranquila, queria sair de casa 9h e acabei saindo 9:13, mas isso não chegou a me irritar.
Saí de casa na sexta-feira e passei em PoA para uma consulta com quiropraxista. Após a consulta tomei o rumo de Pinhal. Pela primeira vez passei pelo túnel verde ao anoitecer, bem bonito.
Cheguei a Pinhal por volta das 18:30, o hotel (Navegantes), como era de se esperar é fraco, como de praxe nessa região, mas pelo menos esse ano estou sozinho, eu me preocupo mais quando estou com namorada, por causa do bem-estar dela. Nos hotéis dessa região sempre temos a impressão de que estamos invadindo a casa do dono do hotel porque é uma linha muito tênue entre onde acaba a casa dele e começa o hotel em si. O ventilador de teto tem 3 velocidades: parado, quase parado e muito barulhento. De vez em quando cai um floco de poeira que estava aglutinado numa das pás do ventilador. O disjuntor do meu quarto caiu em todos os banhos que tomei. Pior que no primeiro banho era de noite e me senti um herói por sair do banho todo ensaboado, tateando as paredes procurando algo que poderia ser uma caixa de luz e religuei a eletricidade do quarto.
Decidi que se nos próximos anos a prova de Punta for próxima a de Pinhal, optarei por ir para o Uruguai. A distância é quase a mesma, mas a estrutura da prova é muito superior e pode-se ficar num hotel de verdade.
19:51, o Humberto (ciclista) me liga pra dizer que está chegando aqui, está meio perdido entre Tramandaí e Cidreira, ele tinha que resolver umas coisas em PoA e resolveu vir de ônibus pra assistir e me dar uma força na competição, esse é parceiro.
O hotel tem um aviso estranho na porta “não nos responsabilizamos por pertences deixados no quarto”. O que isso quer dizer? Cada vez que saio do hotel tenho que colocar tudo no carro de volta?
Amanhã também chegam os conhecidos que farão a prova, o Kiko de Rio Grande e o Michel e Pablo de Pelotas. Vai ser o primeiro Meio Ironman deles, e vou pro quinto.
Na chegada a Pinhal eu vim pelo mesmo caminho que usamos no dia da prova, é estranho dirigir de novo por essa estrada e lembrar de cada detalhe do asfalto, tanto no trecho em que pedalamos quanto da corrida. Já dá um friozinho na barriga olhar pra lagoa, ver as curvas e os pontos de referência que usamos durante a prova a cada contagem de volta. Nesses 5 anos de Pinhal já foram quase 600 km pedalados e corridos nessa estrada.
Acho que dos 5 anos em Pinhal, esse ano é o que estou menos preparado para a Prova. Esse ano não pude treinar direito por lesão (já abandonei uma competição em dezembro por isso) e com minha separação recente tive um mês de fevereiro bem complicado, o que me consumiu uns 6-7 kg de massa muscular. Mas pelo menos estou bem leve e talvez por saber que não estou preparado, o nível de ansiedade é menor. E não estou com medo da prova. Com a experiência a gente vai mudando um pouco a cabeça sobre isso e espero conseguir encarar a prova como um longo treino.
Infelizmente, tenho a impressão que essa prova de Pinhal irá desaparecer do calendário. Esse ano foi notável o baixo número de atletas e muito provavelmente o motivo para isso seja o Half Punta, prova com a mesma distância realizada uma semana após Pinhal. Toda estrutura da prova em Punta chama mais atenção e é uma prova que existe há menos tempo que a de Pinhal, mas que já atrai quase 500 atletas de toda América do Sul. Ou seja, ou a data de Pinhal fica bem longe das provas de Punta ou ficará difícil manter a prova porque quando as 2 provas ficam perto uma da outra, é difícil “concorrer” com Punta del Este (natação na praia, roupa liberada, asfalto perfeito e com subida, congresso técnico e jantar no Conrad, todo glamour de Punta, etc.). E pra quem é casado, chegar pra mulher e dizer: “amor, que tal um fim de semana em Punta?” ela nem vai perguntar pra que. Já na prova de Pinhal não dá pra aplicar essa porque elas já sabem que se falar em Cidreira/Pinhal nessa época do ano significa indiada: ser forçada a acordar antes das 6h, mosquitos, hoteis esquisitos, andar pra lá e pra cá carregando cadeira de praia, máquina fotográfica debaixo de sol e outras dificuldades que os acompanhantes aguentam.
Na noite de sexta pra sábado custei a dormir. Estava com muito sono, mas os mosquitos incomodaram e demorei a achar uma velocidade no ventilador que conseguisse espantar os bichos, mas que não fizesse muito barulho. O hotel é fraco, mas tem umas vantagens logísticas como ser perto da competição e ter um freezer à disposição para as garrafas congeladas.
Peguei meu kit antes das 15h e enquanto estava arrumando as coisas os guris chegaram (Kiko, Michel e Pablo), fui com eles até a Lagoa da Rondinha. Abandonei a idéia de usar neoprene, tudo indica que eles não vão liberar roupa, portanto nem vou levá-la para a transição.
Agora são 17h e a bike está pronta e todo material da prova está separado. Vamos jantar os 4 com o Humberto, em Cidreira. Amanhã pretendo acordar no máximo 5:40. O hotel que ontem a essa hora tinha apenas o meu carro, agora está com uns 10 carros, tá um festival de homem depilado, nem estou me sentindo estranho andando pra lá e pra cá de pantufa velha e meia de compressão até o joelho. E mantive o look nazista até pra ir jantar, bermuda e meião até o joelho.
No sábado de noite começou uma chuva daquelas que não está com cara de parar tão cedo. Competir com chuva vai ser ruim. Antes de me deitar conferi todo material para amanhã (pneus da bike, comida na bike, material para corrida, etc.). A foto é uma miniatura de mim mesmo em Pinhal (2008), feita em epóxi.

segunda-feira, 15 de março de 2010

Penso, logo... não traio (será?).
De maneira empírica eu já tinha deduzido isso apenas convivendo 36 anos com homens e compartilhando de suas confissões, geralmente carregadas de orgulho por ser “o cara”. Sempre que eu ouço esse tipo de coisa penso – bom enquanto estás lá com a outra, a tua mulher está com quem?
Recentemente uma pesquisa vinda de Londres (daquelas que gera mais polêmica do que impacto real sobre nossas vidas ou saúde) está sendo muito divulgada. Foi publicada no periódico Social Psychology Quarterly. Trata-se da conclusão de que homens mais inteligentes seriam menos propensos a traírem suas parceiras, valorizando mais a exclusividade sexual. Os ateus e os politicamente liberais também teriam o mesmo comportamento (mas falar em ateísmo é pecado). Não quer dizer que os que traem sejam burros, até porque chamar o Tiger Woods de burro não dá, mas a inteligência esteve associada a ser mais liberal, ser ateu e prezar pela exclusividade sexual (essa última apenas para os homens). O pesquisador principal da pesquisa, Satoshi Kanazawa, já participou de livros com títulos polêmicos e muito controversos como – “Por que homens apostam e mulheres compram sapatos” e “Por que pessoas bonitas têm mais filhas do que filhos”.
Ele cruzou dados de duas pesquisas norte-americanas, uma sobre inteligência e outra sobre comportamento. Mas alguns são contrários a essa conclusão e apresentam outro lado da moeda – homens mais inteligentes mentiriam mais para proteger sua relação, o que não pode ser ignorado completamente. Até porque nos USA é enorme o número de mulheres que contratam detetives (que poderiam se disfarçar de pesquisadores) para investigar seus maridos, e se o cara é esperto fica com um pé atrás... Já entre as mulheres não existe qualquer associação, elas traem independente de QI.
Homens e mulheres costumam trair por motivos completamente distintos. Pelo menos foi o que eu aprendi na escola. Homens traem por atração física e basta um sorriso para ele achar que sua presa está disponível. Já as mulheres são muito mais complexas (claro) e suas traições costumam englobar motivos como vingança, ter sido “esquecida” pelo marido e por realmente se apaixonar por outra pessoa. Para elas geralmente existe (ou existia) sentimento e romantismo, para os homens que traem é preciso existir...uma mulher disponível. Frase muito dita pelos traidores – “eu faço isso, mas gosto mesmo é da minha mulher, nem penso em largar dela”. Já elas dificilmente diriam a mesma coisa, quando chegam a trair geralmente não morrem mais de amor pelos seus companheiros.
Uma explicação para o comportamento dos homens mais inteligentes seria o aspecto “evolutivo”. Como disse a Martha Medeiros: “os mais inteligentes se deram conta que mais vale ter uma mulher incrível ao seu lado do que uma coleção de casos, e que a fidelidade pode ser um bom investimento no logo prazo”. As mulheres antigamente viviam à sombra de seus homens e eram obrigadas e incentivadas pela sociedade a aceitarem a traição numa boa, como algo que faz parte da relação – “isso é coisa de homem e pronto, a mulher tem que saber perdoar e entender”. Faltavam a elas oportunidades e até meios de sobrevivência fora do casamento. Permanecer solteira depois dos 30 era o fim do mundo e ser desquitada era pior ainda, ou seja, a mulher precisava se agarrar a um homem logo e matar no peito o que fosse preciso porque não se casar ou largar um casamento resultava em marginalização. Hoje a coisa mudou e as mulheres que, em sua maioria trabalham, e têm um pouco de amor próprio, aprenderam que podem cair fora sempre que a união não for mais o que elas desejam. Outro aspecto é que antigamente uma mulher, mãe de família com 45 anos era simplesmente uma mãe, deixava de ser mulher aos olhos da sociedade e de muitos homens. Hoje em dia as mulheres de 40, 45, 50 anos, com ou sem filhos ainda estão “no mercado” e em condições de abrir concorrência pública com muitas de 30 anos. Ou seja, se o homem não dá atenção à ela, se trai e é descoberto, a chance dele ser mandado embora é grande e a mulher sabe que só ficará sozinha se quiser, ela não precisa mais ser submissa e fazer de conta que não vê. Hoje ela pode ficar sozinha ou partir pra outra sem ser recriminada. Quem sabe em breve saia outra pesquisa na mesma linha, dessa vez mostrando que os mais inteligentes e ateus são melhores na cama. Mas pra saber isso, teriam que perguntar para as mulheres, e em mulher não dá pra confiar.