Mr. Domingues

Sempre ouvi que escrevo demais, e-mails longos, cartas intermináveis para namoradas, nunca consegui usar Post-it, enfim, bem ou mal eu gosto de escrever. A intenção é que isso aqui sirva como uma "descarga mental" onde comento fatos, acontecimentos e pensamentos, na verdade, tudo que me der vontade. Sabe quando se vê um filme, lê um livro ou algo no jornal e ficamos com vontade de discutir com alguém sobre o assunto? É pra isso que esse espaço serve, assim eu incomodo menos quem está à minha volta e começo a incomodar anônimos internet afora que queiram ser incomodados. Mas é claro que não vou fugir muito dos meus hobbies, interesses pessoais e profissionais, como saúde, atividade física, esporte, tecnologia e música.

sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

Técnico vencedor Vs. Técnico perdedor.

Existe relação entre o sucesso esportivo e a qualidade profissional de um técnico/treinador?
A resposta óbvia é sim, existe. Mas como é possível avaliar competência de um técnico pelo sucesso de seu(s) atleta(s)? Isso é diferente em esportes individuais ou coletivos?

Em alguns esportes como o futebol isso é feito a toda hora de maneira equivocada (minha opinião) pela mídia e pelos torcedores. Existe apenas um resultado desejado pelo torcedor e 100 vitórias consecutivas não costumam ser suficientes para estabelecer um técnico em nenhum time. Basta uma derrota para que a mídia e os torcedores "exijam" a troca do técnico. Mais engraçado disso tudo é que hoje em dia a equipe responsável pelo sucesso de um time envolve pelo menos: fisioterapeuta, nutricionista, psicóloga, médicos, preparador físico, técnico, fisiologista, massagista, etc. e ninguém cogita colocar a “culpa” em algum desses membros. Erros nutricionais podem afundar uma equipe, desequilíbrio emocional ou treinamentos físicos mal distribuídos também, mas jamais veremos uma faixa no estádio pedindo que troquem a nutricionista ou a psicóloga do clube. O técnico sempre é o culpado exclusivo, costuma ser crucificado, sai do time e 2-3 anos depois ele retorna....até uma próxima derrota.

E num esporte individual?
Claro que por trás de um atleta bem sucedido existe um bom técnico e se seguirmos a lógica empregada pelo povo - um mau resultado pode significar um mau técnico. Será?
Com certeza os técnicos dos primeiros colocados são profissionais do mais alto nível, mas o que dizer dos treinadores dos atletas de menos sucesso? Esperamos que na medida em que as colocações vão ficando piores, o nível de tudo vá caindo também (inclusive dos técnicos responsáveis pelos atletas). Ou seja, os melhores técnicos treinam os melhores atletas e o oposto é verificado no outro extremo.
Não dá para comparar diretamente porque esporte profissional é uma coisa e provas que envolvem atletas amadores são totalmente diferentes, mas vejamos uma situação curiosa que ocorreu no Ironman do Hawaii de 2008.

Nesse ano no Ironman do Hawaii o primeiro colocado foi esse gurizão da foto, o australiano Craig Alexander (na época com 35 anos), com o tempo de 8h 17'. O treinador do Craig foi Nick White.
Alguma dúvida sobre a competência desse treinador?
Nenhuma. O cara levou seu atleta ao ponto máximo.

Agora vamos para o outro extremo da prova, o último colocado.
A última pessoa a cruzar a linha de chegada foi Joe Marinucci (1637º lugar), com a mesma idade do Craig, mas com o tempo de 16h 58' (mais do que o dobro do Craig).
Só o tempo da maratona do Joe (8h 6') foi quase suficiente para o Craig fazer o Ironman inteiro.
O treinador do Joe foi........Nick White. Sim, o mesmo Nick, a mesma pessoa.
Alguma dúvida sobre a competência do treinador do último colocado?

O ápice do sucesso foi a vitória com o Craig e com certeza no currículo do Nick White deve constar essa façanha (suficiente pra garantir emprego por um bom tempo). Alguém gostaria de colocar no currículo - “técnico do último colocado”?
Mas é muito engraçado isso, trata-se da mesma pessoa. A mesma competência extrema que levou à vitória deve ter sido aplicada também no treinamento do último colocado. E se não fosse o treinador, talvez o Joe nem tivesse concluído a prova. Ter chegado em último foi um sucesso ou um fracasso?
Se o Nick White tivesse treinado o Joe e mais uma meia dúzia, mas não tivesse treinado o vencedor, ele continuaria sendo o mesmo profissional competente. Mas não poderia colocar no seu currículo esse selo de qualidade.
Você gostaria de ser treinado pelo mesmo técnico do último colocado?
Gostaria de ser treinado pelo mesmo técnico do Craig Alexander?

Eu acho que o profissional deve sempre exaltar seus sucessos e tem mais que usar seus clientes/atletas como uma propaganda. O lado negativo disso tudo é que muitas vezes o pessoal dá mais atenção para o que “dá mais ibope” sem considerar o empenho e a competência do profissional envolvido.

Na área da educação física é muito comum a promoção pessoal nas costas dos outros. Eu cansei de ver slogans como - “personal trainer da fulana” sendo que a fulana geralmente é uma mulher com corpo perfeito, na casa dos 20-30 anos, que tem 6 horas por dia pra dedicar ao exercício e que já nasceu linda. O que pode ser mais fácil do que ser treinador de uma pessoa assim? Quem quer ser personal trainer de uma senhora obesa, diabética e hipertensa, com 76 anos, que nunca se exercitou e não gosta de se exercitar?
Qual desses profissionais é mais competente? Qual tarefa é mais difícil?
Imaginem dois folhetos de propaganda:
1. Personal trainer da Sabrina Sato (uma foto do sujeito ao lado dela, bronzeada numa roupa de corpo inteiro de suplex branco, em uma sala de musculação).
OU
2. Personal trainer da dona Firmina (uma foto abraçado na vó, de vestido florido e óculos, mostrando a dentadura e segurando 2 pesinhos de meio quilo).
Qual desses profissionais você queria? O da Sabrina? (eu prefiro ela na verdade)
Qual deles é o mais competente? Não sei.
Qual dos dois precisa ser mais esforçado? O da dona Firmina, com certeza.

segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

"Melissinha, vem com a pulseirinha"
Quando eu era pequeno tinha uma propaganda em que a sandália trazia de brinde uma pulseira, e a menina da propaganda falava: "é a minha Melissinha que vem com pulseirinha."

Existem pulseiras por uma causa, que revertem dinheiro para benefício de alguém, como a pulseira amarela da fundação Livestrong que auxilia a pesquisa no câncer. Outras pulseiras incluem para transplante renal (verde), câncer de mama (rosa), diabetes (azul), esclerose múltipla (laranja), epilepsia (meio azul, meio vermelha), furacão Katrina (azul piscina misturado com branco), câncer pancreático (púrpura), e AIDS (vermelha, feita apenas na África). Em geral, a cor da pulseira descreve sua causa, e as cores são frequentemente as mesmas das fitas de campanhas (como a fita vermelha da AIDS).

Ano passado um monte de homem grande, inclusive famosos do meio esportivo, começou a usar a pulseira do equilíbrio, a chamada "Power Balance". E o negócio virou febre, junto com todos os seus "testes infalíveis" de equilíbrio e flexibilidade. O ponto máximo do efeito placebo.

Mas a Power Balance não defendia causa nenhuma (a não ser a do cara muito esperto que inventou o negócio).

Pelo menos na Austrália o revendedor das pulseirinhas Power Balance admitiu ter se aproveitado da "ingenuidade" do consumidor menos informado e lançou esse documento abaixo dizendo algo como: ok pessoal, o negócio não funciona, a gente tava brincando com vocês, foi mal. Quem quiser o dinheiro de volta a gente vai devolver.

No documento eles admitem: "nós prometemos ganhos em força, equilíbrio e flexibilidade, mas admitimos que não existe nenhuma evidência de que isso seja real e portanto nos enquadramos em uma conduta ilegal. Se você se sentiu enganado pela nossa propaganda, pedimos desculpa e lhe oferecemos um reembolso monetário (desde que você tenha nota fiscal, canhoto do cartão ou outros comprovantes de compra de um revendedor autorizado)."

Coisa que no Brasil não deve acontecer, primeiro porque os direitos do consumidor são de certa forma negligenciados em relação a outros países e segundo porque brasileiro não tem hábito de guardar canhoto de compra, nota fiscal, etc. Isso pra não falar de quem comprou o bagulho em camelô.
Irônico mesmo é que o mesmo pessoal que admite isso segue vendendo e propagandeando o produto. Eles lançam um documento dizendo que não funciona, mas mantêm toda rede comercial funcionando normalmente em http://www.powerbalance.com.au
Mas agora no site não aparece nenhum benefício da pulseira. Eles podiam ao menos tirar o Andy Irons do site, ele aparece como usuário (o surfista morreu em novembro passado).

sábado, 1 de janeiro de 2011

Balanço esportivo: 2010
O ano de 2010 acabou e não foi nada do que eu pensava que seria. Na minha infância criei a expectativa de que em 2010 estaríamos “no futuro”, tipo Jetsons, mas isso não aconteceu. Apesar de termos internet (que ninguém previa), ainda dirigimos os mesmos carros, nada de naves. Tirando o WikiLeaks, o ano não teve nada de surpreendente.
A foto do post é de 11 anos atrás de propósito, fim de ano é hora de se olhar pra trás. É do primeiro Duatlo que se fez no Cassino, em frente à estátua de Iemanjá. Eu com 25 anos, numa era A.A. (Antes do Abib, Henrique Abib, atleta que se tornou invencível nessa prova desde 2005 – desde então ele é sempre o primeiro a sair da água e o primeiro a cruzar a linha de chegada). Eu de lá pra cá felizmente estou nadando menos para me tornar um triatleta melhor (troquei tempo dedicado à água pelo asfalto para me tornar um melhor ciclista e melhor corredor).
Sempre ao final do ano eu faço o controle numérico dos meus treinos pra ter ideia de quanto estou treinando e como evoluo (ou involuo) ao longo dos anos. Mesmo antes de ser epidemiologista eu já tinha mania de ficar fazendo esse tipo de contabilidade inútil. Mas dá pra ver uma boa associação entre o volume de treino em cada disciplina e meu rendimento. Comecei esse controle em 1999 e tive altos e baixos causados basicamente por 3 motivos: lesões, falta de tempo ou problemas como piscina fechada por alguns meses.
Em 2010 tive uma mudança positiva que foi ter finalmente iniciado Pilates. Há muito tempo queria ter iniciado, mas sempre achava alguma desculpa. Apesar de não ser muito mensurável o quanto meu condicionamento melhorou devido ao Pilates, me sinto melhor e mais eficiente em vários aspectos. Além disso, fiz uma avaliação postural com fisioterapeuta que me receitou palmilhas e me fez entender cadeias cinéticas que estavam desequilibradas no meu corpo. Não que elas estejam equilibradas perfeitamente agora, mas quanto mais conheço do meu corpo, mais reconheço minhas limitações e melhor convivo com elas. Com isso mudei alguns hábitos e incorporei alongamentos diários específicos e manobras na quiropraxia que me deixaram menos suscetível às lesões e aos espasmos musculares, que são minha cruz desde 2000.
Uma das coisas que mais mudou ao longo dos últimos 10 anos foi a proporção em cada disciplina, por exemplo, em 2000 o tempo que dediquei à natação foi 5 vezes maior que o tempo dedicado à corrida. Dez anos depois, a quantidade de tempo gasta nessas 2 disciplinas é praticamente a mesma, com o ciclismo ocupando o dobro do tempo, o que é bem mais coerente para um triatleta como eu, que começou na natação.
Mas encerrando o ano de 2010 então eu treinei um total de 245 horas nas 3 disciplinas. Além disso, acumulei 175 horas entre musculação e Pilates. Pode parecer muito, mas já cheguei a treinar quase 500 horas em um ano, porém isso foi numa era pré-mestrado, pré-doutorado, pré-trabalho de gente grande. Mesmo com as mudanças em treino, a composição corporal permanece praticamente inalterada desde 1994, mas agora com os 40 chegando perto a coisa pode mudar um pouco.
Com essas comparações é que se percebe a diferença de uma pessoa ativa (como eu) para um atleta de verdade. Enquanto eu faço 400-500 horas de atividade em um ano, um triatleta de elite chega a treinar 2 mil horas. Enquanto eu pago, eles são pagos para treinar, viajar e competir.
Acumulei em 2010 aproximadamente 150 km nadados, 4170 km pedalando e 750 km de corrida. Ou seja, ao longo de um ano, é o mesmo que dizer que todos os dias eu fiz um mini-triathlon em que nadei 410 metros, pedalei 11,5 km e corri uns 2 km. Infelizmente o que eu queria aumentar mesmo eram horas de sono, mas isso tá difícil. Quem sabe isso mude agora com a minha aposentadoria em 2040 mais ou menos.
Apesar do treinamento não ter sido dos maiores em volume, esse foi o meu ano mais competitivo desde 1995, pois participei de 30 provas entre natação, ciclismo, corrida e combinações dessas disciplinas. Dá uma média de uma largada a cada 12 dias. E felizmente das 30 que larguei, 28 eu completei, desisti apenas de 2 rústicas por causa dos espasmos musculares. Psicologicamente nunca estive tão treinado e até acho estranho acordar num domingo sem despertador e sem competição.
Pro ano que vem a intenção é competir a mesma quantidade e sem dor, mas também se tiver que ser com um pouco de dor e abandonar umas corridas de vez em quando, não dá nada. Sinceramente hoje eu largo com 2 grandes objetivos: completar e não me acidentar no ciclismo. Desde 2001 (quando tive um acidente meio sério) cruzar a linha de chegada sem nada quebrado nem sangue tá mais do que bom. O negócio é seguir assim e não parar com o triathlon, pelo menos até os 85 anos.
É, 85 é uma idade legal, 2059 então vai ser minha última temporada no triathlon, é um ano bom. Depois disso o ciclismo começa a ficar perigoso, fica difícil treinar ao mesmo tempo com Ipod e aparelho de surdez e a partir de 2060 o lance vai ser ficar nadando e correndo naquele ritmo dos velhinhos, como diz um amigo meu, no “passinho da porca prenha”. A não ser que eu faça como esse senhor aí embaixo, ai a coisa muda de figura e pode ser que eu me empolgue por uns anos a mais.