Outra forma de dar algo em troca é quando os resultados de uma pesquisa são divulgados de forma ampla com a intenção de mudar a vida das pessoas, ou pelo menos para fazer com que os envolvidos pensem no assunto. Eu tive a felicidade de ter meu trabalho de doutorado (sobre exercício físico na gestação) muito divulgado no país: Revista Saúde É Vital (Editora Abril), Folha de São Paulo, Zero Hora, Jornal Agora (de Rio Grande), Revista SuperAção (especializada em corrida), Rádio Manchete, e mais uma série de reportagens em sites que copiaram as matérias de outras fontes. De vez em quando “I Google myself” e vejo que até hoje seguem publicando coisas por aí com o meu nome, às vezes me impressiono com as palavras que atribuem a mim. Para essa pesquisa eu contei com a colaboração de quase 5 mil mulheres e com certeza um número muito maior de grávidas teve acesso às matérias e de alguma maneira usaram essa informação. Tarefa cumprida.
Agora mais uma vez tenho a sorte de participar de uma pesquisa com ampla divulgação. Não como primeiro autor, mas fui co-orientador de doutorado do Samuel Dumith que estudou atividade física dos adolescentes nascidos em 1993 na cidade de Pelotas. O estudo com mais de 4 mil jovens foi noticiado na Folha de São Paulo, Zero Hora, Rádio Jovem Pan, diversos sites e hoje novamente na Zero Hora, dessa vez na coluna do Moacyr Scliar.
Entre os resultados estão constatações que todos percebem ao analisar o comportamento dos adolescentes de hoje: eles estão fazendo muito mais atividades sedentárias do que antigamente. Menos da metade dos jovens faz o que deveria fazer em termos de exercício. Os prejuízos visíveis agora são mínimos e normalmente não passam do jovem “gordinho”, mas o que será dessa geração dentro de 40-50 anos ninguém sabe, já que nunca se viu alguns problemas como diabetes tipo 2 em crianças, mas agora isso é uma realidade.
Os meninos são mais ativos do que as meninas e pra isso não precisamos de pesquisa, basta perguntar para qualquer professor de educação física escolar sobre o comportamento dos jovens durante uma aula - as meninas inventam todas as desculpas possíveis e impossíveis para não se mexer, fazem questão de trajar roupas impróprias à atividade, usam a menstruação como impedimento, têm “pavor” de suar, entre outras. A observação de competições esportivas denota a mesma diferença - em qualquer corrida de rua, por exemplo, a quantidade de mulheres na linha de largada costuma ser 10 vezes menor que a de homens. E isso se reproduz em diversos esportes. Por outro lado, o esporte profissional nunca envolveu tanto dinheiro nem foi tão divulgado quanto hoje em dia. Uma geração de fãs e adoradores que nada mais faz além de observar (normalmente comendo porcarias ao mesmo tempo).
E as gerações anteriores já nos mostraram que, se um jovem é ativo, a chance dele ser um adulto ativo é muito maior do que se ele for sedentário na juventude: jovens sedentários tornam-se adultos sedentários.
A mensagem principal da pesquisa é para os pais: mexam-se e sejam exemplos para seus filhos, ambos ganharão com isso.