Mr. Domingues

Sempre ouvi que escrevo demais, e-mails longos, cartas intermináveis para namoradas, nunca consegui usar Post-it, enfim, bem ou mal eu gosto de escrever. A intenção é que isso aqui sirva como uma "descarga mental" onde comento fatos, acontecimentos e pensamentos, na verdade, tudo que me der vontade. Sabe quando se vê um filme, lê um livro ou algo no jornal e ficamos com vontade de discutir com alguém sobre o assunto? É pra isso que esse espaço serve, assim eu incomodo menos quem está à minha volta e começo a incomodar anônimos internet afora que queiram ser incomodados. Mas é claro que não vou fugir muito dos meus hobbies, interesses pessoais e profissionais, como saúde, atividade física, esporte, tecnologia e música.

domingo, 21 de fevereiro de 2010

A origem da dor.
Aqueles que iniciam uma rotina de exercícios, com qualquer finalidade (saúde, estética ou competição), em algum momento experimentam dor. Pode ser uma leve dorzinha no dia seguinte ao acordar após ter corrido 5 minutos pela primeira vez, pode ser uma dor que imobiliza todo lado direito após jogar tênis depois de 15 anos parado, dores que surgem após o esforço, geralmente normais e consequência da falta de condicionamento. Mas existe outro tipo de dor, que costuma acompanhar aqueles que levam a atividade mais a sério, são as dores que ocorrem durante a atividade.
Alguns chegam a dizer que a dor é um “bom sinal”, quer dizer que “está fazendo efeito”, mas infelizmente a dor geralmente é a única maneira de o nosso corpo dizer - está na hora de parar, tem algo errado, vai ver o que é. O bom senso manda que se pare a atividade e que se compreenda a origem/causa da dor. Muitas vezes é muito claro o que gera a dor - ir além do limite, equipamento errado, técnica incorreta, uma dor do lado do joelho ao correr em descidas, ou simplesmente cansaço e falta de recuperação. Mas e quando a dor se manifesta de maneira que não nos dá “pistas” do que está errado? Por exemplo, uma atividade cotidiana que de repente (e somente às vezes) causa enorme dor. Vou ilustrar uma situação assim, usando um problema de saúde que me causa muita dor, e que não tem cura definitiva, apenas estratégias de combate, que não curam, mas diminuem as crises.
No verão de 2000, durante um Aquathlon (natação + corrida), liderei a prova na natação, saí em 1º da água e iniciei a corrida. A prova tinha 5 km de corrida, e nessa época correr 10-15 km para mim era algo corriqueiro. Mas nessa prova, ao sair da água, com menos de 5 minutos de corrida minhas duas coxas “empedraram”, um espasmo muscular similar à cãibra, que me fez ir ao chão com tanta dor. Completei a prova caminhando e com muita dor (que demorou uns 3 dias para passar totalmente). Depois desse episódio as crises seguiram acontecendo, sempre na corrida e muito seguido em competições.
A dor não tinha lugar certo, poderia ser em qualquer lugar da frente da coxa, glúteo ou na panturrilha. Entre as bobagens que eu ouvia dos entendidos (inclusive médicos) se destacavam as seguintes: “é muito treino, tens que descansar”, “é falta de treino”, “é falta de banana”, “é a tua pisada, troca de tênis”, “deve ser um problema metabólico”, “é psicológico, nervosismo em competição”, etc.
Mas o tempo foi passando e as crises de dor começaram a surgir em outras situações, como pedalando e até mesmo caminhando. A única pista que eu tinha é que eu passava por épocas de 5-10 dias em que estava suscetível à dor. Se tudo estava bem eu poderia fazer qualquer coisa, correr 2 horas sem problema, se estava no meio de uma crise não conseguia correr nem 5 minutos.
Após sete anos convivendo com isso, em uma conversa com um médico amigo veio a ideia - quem sabe uma ressonância na coluna? Com todos esses anos de natação é difícil que tenhas algo errado na coluna, mas quem sabe. E com o exame veio o diagnóstico: discopatia degenerativa e protusão discal em L5-S1.
A dor era um estímulo nervoso causado por compressão de um grupo de nervos na saída da coluna. Na imagem dá pra ver que o disco entre as vértebras (L5-S1) está desidratado (mais escuro) e muito achatado (muito mais fino do que os acima), ele perdeu a função de “amortecedor” entre uma vértebra e outra. Ali, na saída dos nervos, qualquer “beliscada” que dê nos nervos resulta nessa dor que eu sinto. O fato de o disco estar desgastado aumenta a instabilidade vertebral e em alguns períodos, qualquer esforço físico pinça a inervação. É como um fio desencapado que de vez em quando encosta e “dá choque”, no meu caso os choques são esses espasmos musculares nos membros inferiores.
O principal problema é não ter como saber quando isso ocorrerá. Isso não tem cura. Provavelmente eu teria o problema de qualquer maneira pela morfologia da minha coluna, mas o processo foi acelerado por uma limitação minha, a falta de flexibilidade.
O fato de eu ser pouco flexível fez com que a exigência sobre a coluna para manter a posição do ciclismo no triathlon (deitado sobre o guidão) fosse machucando o disco intervertebral ao longo dos anos. O ciclismo não causa isso, nem a falta de flexibilidade, mas as duas coisas juntas são um problema. O fato de ficar muitas horas sentado é muito ruim também.
Perguntei para vários profissionais: devo parar com alguma das minhas atividades?
Resposta unânime: não. Se ficares parado vai ser pior, te cuida e tem consciência do teu problema, não ganha peso e mantém a musculatura postural em dia. De resto, só te acostuma porque isso vai te acompanhar por muitos anos.
O que fazer? Reforço muscular (costas e abdômen), aumentar a flexibilidade, não nadar borboleta, modificar alguns exercícios na musculação, dormir com travesseiro nas pernas, cuidar da coluna no dia-dia, evitando torções e cargas desnecessárias, etc. Junto disso tudo, iniciei com quiropraxia em 2008 e os episódios de dor ficaram mais raros, ainda ocorrem, mas pelo menos agora eu sei o que está acontecendo. A pior coisa era não saber a causa da dor.
Dois anos depois do diagnóstico inicial fiz outro exame e a situação parece estável. Ou seja, minha rotina não está piorando o problema e se nada de anormal ocorrer, uma ressonância a cada 5 anos servirá como acompanhamento.
Ontem, na mesma competição em que senti a dor forte em 2000, tive dores similares, mas fui indo, alongando, caminhando, trotando até que aqueceu e melhorou um pouco. Competições que têm corrida logo após a natação (sem o ciclismo no meio) são piores pra mim porque a mudança de posição da coluna aumenta a chance de ter uma crise. Ontem eu provavelmente teria chegado em 4º lugar se não tivesse dor, cheguei em 8º, mas já estou bem grandinho pra saber que depois da linha de chegada todos são iguais.
De qualquer forma, em relação às dores esportivas a única certeza que se tem é - se está doendo, algo está errado. Pode não ser algo tão sério quanto um problema de coluna, mas a dor é sempre um aviso, um pedido de socorro do corpo, e que, portanto, não deve nunca ser ignorada.

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

18 anos depois.
Hoje chegou meu ingresso para o show do Guns n’ Roses e ao mesmo tempo fiquei sabendo quem abrirá os shows deles no Brasil. Um “amigo” da banda e que fez sucesso na mesma época do auge do Guns, trata-se do ex-vocalista da banda Skid Row, Sebastian Bach. Assisti ao Skid Row em 1992, também em Porto Alegre (eles voltam ao Brasil em novembro de 2010). A banda estava no máximo do sucesso e o show foi interrompido prematuramente porque alguém da plateia lançou uma bomba caseira na bateria. Na hora disseram que o baterista estava ferido, mas era mentira (em seguida ele foi visto numa boate, encerraram o show, corretamente, por medo de outra bomba). Todo mundo saiu do estádio e voltou pra casa com aquela sensação de coito interrompido, e pior que por conhecer o setlist dos outros shows da turnê, nós sabíamos exatamente o que havíamos perdido.
Na década de 90, o que movimentava os shows dessas bandas era o frenesi feminino em volta dos vocalistas. A gritaria histérica que as mulheres inventaram nos anos 50-60 com Elvis-Beatles-Rolling Stones, e que a cada geração alguns artistas são eleitos como alvo dessa devoção. Mas, apesar de alguns não entenderem e dizer que era “coisa de veado” também existia um público masculino que se interessava pela música em si. A mulherada delirava com as cabeleiras deles de propaganda de xampu e calças de couro, enquanto gente como eu, que tinha uma banda de rock na época, ficava traduzindo as letras e tentando aprender os solos de guitarra.
Tanto Sebastian Bach quanto o Axl Rose não devem estar cantando mais do jeito que faziam há 15-20 anos, e as gurias que ficavam em estado de choque por eles naquele tempo, provavelmente hoje estão muito ocupadas cuidando dos filhos, brigando com seus maridos, trabalhando, etc. De qualquer forma, eu que nunca fui fã pessoal deles (e sim de suas bandas) fiquei contente por saber que na verdade irei a 2 shows possivelmente bons, e que será daquelas oportunidades em que tanto a atração principal quanto a banda de abertura agradarão ao público com certeza. Dessa vez, sem bombas, espero.

terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

A quarta modalidade.
Nadar, pedalar, correr... e comer.
Em resposta a comentários e e-mails sobre provas de longa distância, escreverei algumas linhas sobre a alimentação durante uma prova como um Meio Ironman (ou Ironman 70.3). Por favor, não sou nutricionista, sou apenas um curioso na área e alguém que já viveu a situação várias vezes e esteve ao lado de atletas durante Ironmans. A informação contida aqui é válida principalmente para quem vai se aventurar pela primeira vez nas provas mais longas, não esperem um plano nutricional avançado.
Sprint triathlon - dá pra fazer só com água numa boa. Olímpico - é necessário ingerir algum líquido/gel carboidratado. Acima da distância olímpica - comer torna-se tão importante quando nadar, pedalar ou correr, torna-se a quarta modalidade.
É comum um triatleta dizer “puxei demais na bike, depois não consegui correr” OU “era pra ter ido mais forte na bike, sobrou energia”. É uma linha tênue entre forçar demais ou de menos, e talvez o aspecto mais difícil de se achar o ponto certo seja a nutrição. Comer demais é ruim, comer de menos é pior ainda. Acertar o que/quando/quanto comer leva um bom tempo e requer autoconhecimento.
Numa conversa com o Armando Barcellos antes do Ironman de 2003, a resposta dele sobre nutrição foi a mais simples e a mais correta para a pergunta “o que comer durante a prova?”: rapaz, basta comer exatamente o que você está acostumado a comer nos treinos, não inventa moda. Mas infelizmente muita gente teimosa continua treinando sem comer, ou seja, não treina a alimentação.
O quanto uma pessoa consegue ingerir varia muito, alguns sentem peso estomacal até com gel, outros conseguem correr comendo um sanduíche, por isso não existem receitas fechadas, mas algumas dicas valem. Matematicamente, basta que numa prova longa se faça ingestão média de 50g de carboidrato por hora. Falei grego né. Vamos a algumas coisas práticas então.
1) jamais esperar sentir fome ou sede para se nutrir, a melhor maneira de se evitar isso é traçar um plano e manter-se nele. Para não ter perigo de errar, uma sugestão: imprimir num papelzinho quando e o que será ingerido, deixando esse lembrete à vista (colado no guidão ou no quadro - exemplo na figura).
Isso evita que se chegue ao km 20 da bike sem perceber que já se passou mais de 1h de prova e quase nada foi ingerido. Esse roteiro deve ser seguido assim: o que está ali é obrigatório, mas se entre uma coisa e outra sentir vontade de beber, beba, principalmente água. Essa flexibilidade é muito importante em dias quentes. Lembro que a imagem é apenas um exemplo.
2) a maior parte da alimentação será no ciclismo. Caso a intenção seja ingerir algo sólido o ideal é dividir o tempo (ou a distância) de pedal em 3 e concentrar os sólidos no terço intermediário. Por que isso? Porque no início do pedal estamos em adaptação e o melhor é ficar no líquido/gel. E se deixarmos para ingerir algo sólido no último trecho do ciclismo, corre-se o risco de iniciar a corrida pesado e até mesmo sentir vontade de vomitar.
3) é obrigatório ingerir algo sólido? Teoricamente não. Mas aí entra de novo a questão do que foi usado nos treinos longos que combinaram ciclismo e corrida. Além disso, algumas pessoas após ingerir muita coisa doce começam a ter um reflexo de vomitar o doce, necessitando de algo salgado, geralmente sólido.
4) o que comer/beber? Água, isotônico líquido e gel de carboidrato são certos para todos, depois disso começa a experimentação pessoal: banana passa, mariolas, barra de proteína, club social (o único salgado que consigo ingerir na hora), e para Ironmans eu recomendo experimentar também sanduíche de batata (pão de forma branco recheado com purê de batata levemente salgado). E eu sempre levo chiclete de menta porque caso eu comece a ter sinais de enjoo, um chicletinho ajuda. A Coca-cola é polêmica, mas muito usada, e alguns adoram porque o gás ajuda a arrotar, diminuindo desconforto estomacal. Nutricionalmente não é o ideal, mas na hora funciona para muitos.
5) teoria Vs. prática: já passei pela situação num Ironman de precisar comprar uma empada de galinha num bar porque o atleta precisava de algo mais “pesado e salgado”. Era o que ele queria na hora. Parece absurdo, mas todo plano alimentar está sujeito a falhas e muitas vezes o “desejo” por alguma coisa ou a repulsa por outras é que vai mandar. Se na bike você tem 6 gels, e no terceiro está repunado, não convém forçar, mesmo que esse seja o plano original. É perigoso simplesmente abandonar o carboidrato e ficar só na água, mas se existe o risco de vômito pode ser melhor esperar o enjoo passar ou surgir algo diferente. No Ironman, por exemplo, após certa hora já vi servirem caldo de frango morno em copo. O pessoal diz que desce redondo.
6) nunca é demais repetir: experimentar “comidas novas” no dia da prova pode ser um desastre, só use o que foi testado em treinos. Existe apenas uma coisa pior do que experimentar comida diferente no dia da prova - experimentar um tênis novo. Se você não estiver desesperado, as comidas fornecidas durante a prova só devem ser aceitas se foram testadas antes.
7) no dia, fórmula básica: café da manhã aproximadamente 2h30’antes da largada (pra quem for dormir em hotel, lembrar de comprar o café da manhã porque muitas vezes o horário do café servido no hotel não se encaixa com o horário da prova); 2-3 visitas ao banheiro; um gel de carboidrato 30 minutos antes da largada; aquecimento de 5-10 minutos na água; xixi 2 minutos antes de largar e começar a pensar que se fará um “treino longo”. A natação passa muito rápido e daí em diante é sair pra dar uma pedalada de quase 3 horas, comendo e pensando na vida. Depois é começar a correr/caminhar com o que sobrou de energia. Cuidado para não planejar a hidratação muito baseado no fornecimento da prova. Os problemas de organização mais comuns são: falta de água ou depois de algum tempo só ter água morna nos postos de hidratação. Água morna em dia quente = dor de barriga.
8) e depois? é normal não sentir fome logo após uma prova (ou treino) longa, normalmente isso é sinal de desidratação leve. A fome virá em menos de 2 horas e vai ficar instalada no corpo até o dia seguinte. Ao cruzar a linha de chegada, tome muita água e coma alimentos oferecidos, como frutas e bolachas, mas não exagere, 2 frutas e 3-4 copos d’água enquanto se tira a bike da transição já são suficientes. 1h depois disso já estamos liberados para comer como mendigos que estão sem comer há dias. É mais ou menos assim que as pessoas nos restaurantes nos olham após uma prova dessas. Pele queimada, corpo pintado com o número, rosto cansado, um leve sorriso ébrio e uma sucessão de 3-4 pratos cheios. Passe o resto do dia com uma garrafa de água à mão. Depois disso é só começar a planejar pra prova seguinte, vendo o que foi feito de certo e errado em relação à alimentação. Anote tudo e escreva comentários para recorrer a essa informação no futuro. E quem sabe, passar adiante o conhecimento para quem pretende cometer a mesma loucura pela primeira vez.

segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

Corrida na gestação - Parte 1
Postagem baseada em uma entrevista minha para uma revista especializada em corridas.

1. A prática constante de corrida ou de qualquer outra atividade esportiva pode dificultar a concepção?
A concepção pode ser dificultada em algumas mulheres esportistas por causa de desequilíbrios hormonais, normalmente causados pela falta de gordura corporal, que pode levar à amenorréia (não menstruação) ou à oligomenorréia (ciclo irregular ou pouca menstruação). A corrida por ser uma atividade excelente para a queima de gordura pode levar mulheres a esse quadro. Essa dificuldade em conceber pela falta de gordura corporal pode ocorrer em atletas de esportes cíclicos (natação, ciclismo e corrida) e em bailarinas também. Em quadros mais graves a osteoporose é outro sintoma que surge com o passar dos anos. Repare que eu usei várias vezes o termo “pode”. Se a corredora tem seus ciclos menstruais regulares, mesmo assim não consegue engravidar, provavelmente outro fator é que está dificultando a concepção, e não a corrida. Lembrando que um casal deve se preocupar com infertilidade apenas após 6 meses tentando engravidar sem sucesso, antes disso o negócio é continuar tentando.

2. Há algum momento na gravidez em que é necessário parar totalmente os treinos de corrida?
Quando a bolsa romper.
A mulher é a melhor pessoa para reconhecer esse momento de parar. O mito de que a corrida é proibida no início da gravidez é somente isso, um mito. Lembrando sempre que estamos falando de mulheres saudáveis, que não tenham histórico de perda gestacional. Se uma mulher já teve aborto espontâneo e seu médico aconselha que ela evite atividades de impacto, pode ser o mais apropriado para o caso dela até porque discordar do médico pode ser um fator estressante, mas não existe qualquer evidência científica de que o impacto da corrida (em qualquer época da gestação) traga algum prejuízo.
Pense também que muitas corredoras descobriram sua gravidez já no segundo mês, não mudaram suas rotinas de corrida e nem por isso prejudicaram a gestação.
Dificilmente uma grávida conseguirá manter-se correndo durante todos os 9 meses, mas geralmente os obstáculos são incômodos como os enjôos do início da gestação e desconfortos biomecânicos (peso da barriga e dos seios) mais perto do final da gravidez (existem suportes elásticos para a barriga e os seios que podem ajudar a mulher nessa hora). Por isso muitas mulheres correm bastante no meio da gravidez, do quarto ao sétimo mês.
Cuidado com as quedas!!! Bater com a barriga pode ser prejudicial e a mulher deve estar bem consciente que com o avanço da gravidez seu centro de gravidade vai sendo alterado e o equilíbrio precisa ser “ajustado”. O reforço muscular do abdômen e da região lombar é excelente tanto para evitar dor nas costas quanto para ajudar a contrabalançar os desvios posturais naturais da gestação.

3. A gravidez traz consigo algumas mudanças no organismo. O que a corredora vai sentir de diferente durante este período?
É normal que a corredora sinta-se mais cansada e menos disposta com o avanço da gravidez. O aumento do peso corporal é uma sobrecarga nas articulações (joelhos e calcanhares) que pode gerar desconforto e até dor durante o exercício. Dores persistentes que seguem mesmo após cessar a atividade devem ser investigadas.
Mulheres que costumam controlar seu ritmo de corrida pelo cronômetro perceberão rápidas mudanças após o início do terceiro mês que progredirão, deixando a mulher cada vez mais lenta. A melhor coisa a fazer é deixar o cronômetro em casa, já que mulheres extremamente competitivas podem sentir-se desmotivadas a seguir com a atividade. Claro que todas as mudanças são proporcionais ao treinamento prévio da atleta. Paula Radcliffe correu rústicas durante a gravidez de forma recreativa, aos 6 meses de gestação ela fazia 10 km em 40 minutos, o que para ela era um ritmo “de passeio”, mas que para muitas mulheres é um ritmo forte.
Mudanças de humor podem afetar a vida da corredora também. Pessoas ativas são menos susceptíveis a sintomas depressivos, mas a gravidez é um período tão singular que flutuações hormonais podem fazer com que se tenha menos vontade de se exercitar, mas com sorte é apenas um sentimento passageiro.
Parece desnecessário, mas é preciso lembrar que nessa hora a mulher deve esquecer a performance e pensar apenas em uma atividade que vai trazer saúde para a dupla. O exercício deve ser sempre prazeroso, não é hora de se esforçar para melhorar algum tempo. Se a mulher apenas corre, pode ser o momento para procurar atividades diferentes como natação, ginástica em academia, musculação, etc. A alternância de atividades aumenta a chance dela se manter ativa tanto por razões psicológicas quanto físicas. O importante é não parar, o sedentarismo sim, é com certeza prejudicial.
Corrida na gestação - Parte 2
Postagem baseada em uma entrevista minha para uma revista especializada em corridas.

4. Como a corrida pode oferecer perigo para a gravidez, por alguma questão de impacto ou esforço?
O útero é um “ninho perfeito”, o impacto que a mulher gera ao correr não tem como prejudicar o feto. O corpo tem maneiras de “avisar” a mulher quando ela está se excedendo no esforço, sem a necessidade de um monitor cardíaco que soe um alarme.
Os principais cuidados da grávida são com relação às temperaturas altas, desidratação e hipoglicemia, três situações que podem prejudicar o feto de várias formas. Por isso, independente do histórico atlético, as sessões de exercício da grávida não devem exceder muito o tempo de 1 hora. Ela deve evitar as horas mais quentes do dia, usar roupas adequadas e prestar atenção na alimentação (dicas que valem para qualquer atleta, não apenas grávidas). A hidratação deve ser constante e qualquer sinal de alerta como tonturas, dor de cabeça, calafrios, falta de ar e alterações no ritmo respiratório indicam que a atividade deve ser encerrada.
Grávidas devem se exercitar, mas a competição é desencorajada porque quando competimos a adrenalina e a vontade de superação podem fazer com que ultrapassemos o limite do exercício benéfico, indo para a atividade prejudicial.

5. Em quanto tempo a mãe pode voltar aos treinos? Do que essa volta vai depender?
Essa volta depende basicamente do tipo de parto. As mulheres que tiveram o azar de passar por uma cirurgia cesariana com certeza demorarão muito mais para retornar ao exercício (e à vida normal) do que aquelas que fizeram o parto vaginal. Mas até para isso a corrida faz bem, mulheres que são ativas e saudáveis têm muito menos necessidade de cesariana.
Estabelecer um tempo para voltar é equivocado, mas de maneira geral as mulheres que fazem parto normal começam com caminhadas na segunda semana após o parto, podendo aumentar a intensidade das mesmas durante 2-4 semanas e geralmente 6 semanas após o parto começam os primeiros trotes intercalados com caminhadas aceleradas. Mulheres bem condicionadas (e com muita força de vontade) conseguem retornar às competições 3 meses após o parto. Para aquelas que fizeram cesariana segue a mesma progressão (caminhada, trote, corrida), mas tudo ocorre pelo menos um mês mais tarde.
Mesmo entre mulheres que fazem parto normal, às vezes a episiotomia (pequeno corte feito no momento do parto para auxiliar a saída do bebê) pode fazer com que as atividade sejam um pouco adiadas, mas cada caso é um caso. Claro que o retorno é lento e não se pode exigir os tempos de antes de engravidar, mas a progressão é relativamente rápida e, junto com a amamentação, o exercício ajuda a voltar ao peso normal. É um conjunto de fatores, funcionando juntos e que fazem com que se volte ao condicionamento antigo. Como sempre, a mulher vai saber exatamente quando é a hora “dela” voltar a correr. Se eu disser que é com 5 semanas e ela me disser que “nem pensar”, como vou discordar?
Parece brincadeira, mas a volta depende também do pai (ou de alguém para cuidar do bebê), já que durante o exercício alguém precisa cuidar da criança. O suporte familiar pode facilitar ou dificultar o retorno da mãe ao exercício.
Atualmente o mercado brasileiro já conta com carrinhos de bebê com rodas grandes (infláveis como as de uma bicicleta) que são desenhadas para a mãe que pretende caminhar/correr e levar junto seu filho. (cuidado com a exposição solar do recém-nascido)
Muitas mulheres relatam que sair pra se exercitar é relaxante porque elas conseguem “descansar” um pouco da rotina de cuidar de um recém-nascido e conseguem pensar um pouco em outras coisas e nelas mesmas. Excelente para evitar a depressão pós-parto. Só pra esclarecer outro mito antigo – leite materno não perde qualidade com exercício. Sugestão: dar de mamar antes da corrida, aliviando o incômodo dos seios pesados.

6. Alguns estudos indicam que atletas melhoram seu desempenho após serem mães devido ao aumento do volume de sangue e hemácias. É correto fazer tal afirmação?
Primeiro é preciso dizer que a gravidez é de certa forma um “doping” e muitos esportes proíbem grávidas de competir. Para as atletas de resistência como nadadoras, corredoras, remadoras, ciclistas e triatletas a grande vantagem da gravidez é o aumento do volume sanguíneo e das hemácias, que é exatamente o que muitos atletas buscam de forma ilegal com injeções de EPO. A grávida tem essa vantagem durante a gestação e por algum tempo após o parto, mas mudanças significativas em longo prazo ainda não foram demonstradas.
Citando mais uma vez a corredora Paula Radcliffe – “eu estou mais feliz e pessoas felizes correm mais”. É talvez a melhor definição para explicar porque mulheres que tiveram filhos melhoram seu desempenho. Desconheço qualquer pesquisa que tenha mostrado alguma mudança fisiológica após o parto (que dure mais de 6 meses) e que resulte em ganho de performance. Mas o efeito psicológico deve ser levado em conta, muitas mulheres sentem-se realizadas com um filho e isso é um enorme incentivo para a vida em vários sentidos, porque não seria para a corrida também.

Calculadora Sexual.

Dizem que nós estamos separados de qualquer pessoa no mundo por no máximo 6 conhecidos. São os elos de uma “corrente” que unem todo mundo. Para compreender um pouco o poder de disseminação das doenças sexualmente transmissíveis é preciso entender que quando dividimos os lençois com alguém, de maneira indireta poderemos estar dividindo a cama com todo o passado daquela pessoa e das pessoas com quem ela se relacionou.

Pensando nisso, o pessoal da Lloyds Pharmacy (rede de drogarias britânica) publicou no site uma calculadora para mostrar com quantas pessoas você pode ter “dividido a cama”. Esse é o link - http://calculators.lloydspharmacy.com/sexdegrees. O cálculo considera: 1) sua idade; 2) número de parceiros na vida; 3) seu sexo; 4) sexo dos parceiros; 5) a idade que seus parceiros sexuais tinham na sua última relação.

Existem 2 opções de resultado, considerando apenas 3 “gerações” de parceiros e 6 gerações. O aumento numérico no resultado é uma progressão geométrica.

É só uma brincadeira matemática, que se baseia em médias populacionais e, portanto sujeita a muitas variações e erros, mas para muitas pessoas pode ser um resultado próximo da realidade. Pelo site, considerando 3 gerações eu tive por volta 800 parceiros indiretos, número aproximadamente 9 vezes menor do que a média para pessoas da minha idade. Sem surpresas.

Os números que saem quando se considera 6 gerações são absurdos e ultrapassam os 300 mil. É aquela estória, fulano transou com a fulana que já tinha transado com fulano1, fulano2, fulano3. O fulano1 já tinha transado com ..... e assim vai. É uma network sexual. Pode ser que daqui algum tempo saia alguma estimativa que mostre a quantos elos de separação sexual nós estamos do Brad Pitt, da Charlize Theron, Jude Law, da Megan Fox, etc. Poderemos ir ao cinema e dizer: sabe essa Scarlett Johansson? Diretamente nada, mas indiretamente...

domingo, 14 de fevereiro de 2010

A calça saruel.

Hoje na praia eu passei por um grupo de 4-5 mulheres todas por volta dos 25 anos, uma delas vestia calça saruel (estampada) e outra um macacão no mesmo estilo. Sinceramente não reparei nas mulheres em si, só uma coisa me fez pensar - o que leva uma mulher a usar uma calça saruel?

A primeira explicação deve ser pelo conforto, mas caminhar com fundilhos que passam dos joelhos é confortável? É claro que o importante ao se vestir é a pessoa se sentir bem e confortável, eu acredito tanto nisso a ponto de me vestir terrivelmente mal, mas me sentindo sempre confortável. Além disso, as mulheres nunca escolhem a roupa pensando em atrair os olhares masculinos (normalmente elas se preocupam mais com a opinião das outras mulheres), chamar a atenção de homem é muito fácil, conseguir um elogio sincero de outra mulher requer horas de espelho. Mesmo considerando tudo isso e sabendo que na maioria dos dias as mulheres se vestem sem pensar em ficar atraentes, dá pra imaginar alguém vestindo uma calça daquelas, se olhando no espelho e dizendo: “nossa, como fiquei bonita com essa calça”?

Aí eu fui ver de onde saiu o negócio e descobri que é da região de Marrocos, e que é um traje religioso usado por homens e mulheres (deve ser porque a última coisa que se pensa ao olhar uma saruel é em sexo, jamais uma calça de suplex poderia ser um traje religioso).

E mundo afora tem homem usando também, dependendo do estilo do cara até fica bem. Dizem que quem está acima do peso não deve usá-la, mas eu acho bem mais aterrorizante aquelas modelos de 1,80 com 45kg desfilando de saruel, é a visão do inferno. Coitadinhas, elas já têm uma aparência de doentes, dentro de uma calça em que cabem 6 coxas delas, a coisa só piora.

Acho que a saruel é uma antítese do salto-alto. Como trabalho com saúde, sou um pouco contra o salto, pois ele pode ser prejudicial e machucar dedos do pé, joelho e coluna, mas reconheço que pelo menos ele deixa a mulher mais sexy (porque acentua a lordose) e mais alta (todas as mulheres querem ser mais altas e mais magras) minha ex-namorada dizia que “o salto alonga a silhueta”.

Bom, mas a moda está aí há um bom tempo e é claro que as mulheres devem usar o que gostam. Mas é só uma dica e creio que a minha opinião é compartilhada com a maioria dos homens - se por acaso algum dia você pensar em chamar a atenção de um homem (isso pode ser necessário um dia) JAMAIS use calça ou macacão saruel.

Pelo menos uma coisa a saruel tem de democrática, ela nivela todo mundo - não importa o corpo da mulher, nenhuma fica bem dentro daquele saco de pano.

sábado, 13 de fevereiro de 2010

Baby steps.
Pergunta recorrente que me fazem: Marlos, como é o certo pra gente correr, qual parte do pé deve tocar o solo primeiro, é verdade que tem que ser o calcanhar?

Esse é mais um daqueles casos em que o pessoal foca a atenção na coisa errada. Nunca ninguém me perguntou qual o tamanho certo da passada ou quantas passadas por minuto deve dar. Algo semelhante acontece na água, sempre que me perguntam sobre trajetória da mão e do braço eu pergunto – quantas braçadas tu dá em 25 metros, isso sim é importante. Mas voltemos à corrida.

Com exceção dos corredores de provas relativamente curtas (até 1500m) que usam sapatilhas com travas na região dos dedos, a maioria dos corredores usa toda a sola do pé para correr e costuma colocar o calcanhar primeiro no solo. Ou seja, 99% dos corredores não devem correr na ponta dos pés.

Mas realmente é importante ficar discutindo qual parte do pé que toca o solo primeiro? Tem coisa mais relevante para se considerar – o tamanho da passada, por exemplo. O que deve mandar na mecânica é a distância com que o pé toca o chão em relação ao quadril.

Um corredor velocista tem uma mecânica de passada diferenciada, com passadas largas e com aproximação dos calcanhares dos glúteos, mas tu não és o Usain Bolt. Para corredores de rústicas e triatletas, as passadas largas, apesar da impressão de velocidade, são piores em todos os aspectos. A passada ideal é aquela em que o pé atinge o solo poucos centímetros à frente da linha do quadril. Arremessar os pés muito à frente do quadril tem desvantagens como: aumentar a oscilação horizontal do corpo (correr pulando - desperdiçando energia), aumentar o risco de lesões, aumentar o impacto sobre calcanhar, joelhos e coluna e, junto com esse impacto, a cada passada o corpo é freado ao entrar em contato com o solo. Além disso, na passada larga o tempo de contato dos pés com o solo é maior porque tem que esperar o corpo mover-se pra frente.

Por causa do meu problema de coluna lombar eu precisei reaprender a correr e a primeira coisa que fiz foi reduzir o tamanho das passadas e aumentar a cadência (velocidade das passadas), como resultado comecei a correr mais rápido com menos desgaste e sentindo menos a coluna.

Muitos corredores inexperientes, ao tentar acelerar a corrida, aumentam o tamanho das passadas e ficam parecendo saltadores de salto triplo, dando pequenos voos entre uma passada e outra, sem perceber que isso gera um desgaste muito maior sem se traduzir em maior velocidade. Por outro lado, aumentar a cadência da passada aumenta claramente a velocidade de deslocamento e minimamente o desgaste.

Uma maneira de avaliar se a cadência de corrida está boa é contar quantas passadas (contando nos 2 pés) se dá em 10 segundos. O ideal é que o número de passadas em 10” fique por volta de 30. Se estiver longe disso (abaixo de 20, por exemplo), diminua o tamanho da passada e aumente a velocidade conscientemente. Se for contar em uma perna só, almeje dar 85-100 passadas a cada minuto. No início é desconfortável, mas é uma maneira de melhorar a técnica de corrida, algo que é pouco valorizado, já que muitos pensam em correr cada vez mais sem pensar em correr cada vez melhor.

Concentre-se em colocar os pés logo abaixo do quadril, a cadência vai aumentar, o corpo ficará mais estável e as pernas funcionarão como rodas sob você, ao invés de funcionarem como molas que lhe jogam pra cima e não pra frente. Ao correr em declives muitos alargam a passada e aumentam a fase aérea da corrida, isso é tentador, mas outra forma de acelerar a passada é correr em descidas com passadas bem curtas. A diferença de impacto é gigantesca.

Contanto que seus pés toquem o solo abaixo do quadril, pouco importa se a primeira parte do pé em contato com o chão é o calcanhar, o meio do pé ou a ponta dos dedos.


Amizade entre sexos opostos.

Homens e mulheres podem ser amigos, somente amigos? A resposta certa (e politicamente correta) é SIM, sem dúvida, mas... quando falamos de relações homem/mulher sempre tem um “mas”.

Como eu gosto de falar em aula às vezes, somos evoluídos e vivemos em sociedade, mas não podemos nos esquecer que, antes de tudo, somos bichos. Na natureza, machos e fêmeas se aproximam com um único propósito que vocês sabem qual é. Há alguns anos uma aluna (medicina) ficou indignada comigo porque eu disse: “as crianças, assim que nascem, tendem a ser parecidas com o pai para ajudar a mãe a saber de quem é o filho e qual macho ela deve cobrar que ajude-a a criar a prole”. A aluna achou que fosse uma piada sem graça, mas eu expliquei que não, que ela deveria pensar em uma mulher que entra no período fértil, que está cercada de machos que potencialmente podem fecundá-la e um deles será o pai. Mas professor, nós vivemos numa sociedade organizada e com regras. Santa inocência, a biologia ignora as etiquetas sociais minha querida, tá aí o teste de DNA pra nos ajudar.

Indo para o lado da relação homem-mulher, a vida em sociedade gerou atividades e rótulos como “cortejar”, “passeio romântico”, “jantar a luz de velas”, “paquerar” (nem se usa mais essa palavra, né), “ficar”, “namorar”, “casar”, mas tudo isso acaba por juntar um homem e uma mulher que têm em comum um único objetivo.

Mas e a amizade? Antigamente mulher não podia ser amiga de homem sob pena de ter um “desvio de comportamento” e se apaixonar por um estando prometida para outro. Mas a sociedade mudou, homens e mulheres trabalham juntos, saem em grupos, trocam e-mails e de um jeito ou de outro existe a proximidade que nada tem a ver com o sexo propriamente dito. Ou tem?

Uma pesquisa (sempre tem pesquisa) mostrou que na metade das relações de amizade homem-mulher existe tensão sexual em pelo menos um dos lados. Entre os pesquisados, dois terços dos homens já levaram amigas para a cama e quase metade das mulheres admitiram já ter feito o mesmo, mas a maioria concorda que o sexo prejudicou a relação. É, realmente, depois do ato feito provavelmente um dos dois vai querer repetir a dose, o outro vai discordar e se concordar, deixa de ser amizade e vira sacanagem. Já entre universitários americanos não tem muita frescura, metade já transou com amigos.

Bom, mas então não existe amizade pura entre homem e mulher? Existe, o que os pesquisadores da área acreditam é que na maioria das amizades entre sexos opostos, pelo menos um lado teve em algum momento algum sentimento além da amizade. E que muitas vezes esse sentimento foi um catalisador da amizade pura, que surgiu com o tempo.

E quando o amigo ou a amiga é casado?

A quantidade de amigos (homens) que uma mulher casada tem é sempre menor do que se ela fosse solteira, e isso vale pro homem também. Algum marido gosta de ouvir a mulher dizer: “vou sair de noite com o Maurício, vamos ao cinema e depois jantar pra colocar o papo em dia.”? Acho que não, e o mesmo vale pra elas – “amor, sabe a Marina, aquela amiga que morava comigo na faculdade? Ela está na cidade e vamos sair hoje de noite pra falar dos velhos tempos”. Ou seja, sem querer ser preconceituoso, a amizade entre homem e mulher sempre tem um lado meio “esquisito”. E por favor, não vamos confundir amizade com relações cotidianas de trabalho, etc. Eu tenho um cachorro e uma gata que são simplesmente amigos, sem interesses sexuais, mas aí é um lance interespécies.

Enfim, com certeza homens e mulheres podem ser amigos e isso é cada dia mais comum, mas a amizade entre sexos opostos sempre será diferente da amizade homem-homem ou mulher-mulher. Não existe verdade absoluta, tudo é possível em termos de relações, e por mais que a gente pense nisso, as respostas nunca poderão ser dadas de forma definitiva por uma única pessoa. Mesmo que a mulher diga: nada a ver, eu sou amiga do fulano e jamais pensei nele desse jeito, mas ela pode garantir que o fulano pensa o mesmo?

O discurso pode parecer sexista, mas não dá pra gente ser cínico e dizer que amizades são sempre amizades, independente do sexo dos amigos. Em relação à maneira de ver minhas amigas, eu já tive amigas e amigas e acho que da mesma forma algumas já me viram como apenas amigo e outras como um amigo, mas... ah, sei lá, quem sabe né, why not? Entre homem e mulher sempre tem um “mas”.

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

Pinhal, once again.

Acabei de me inscrever para o triathlon de longa distância de Pinhal. Dá sempre um friozinho na barriga pensar - ok, agora é de verdade, estás inscrito. É a quinta vez que participarei desta competição e, graças ao meu problema de coluna, a única certeza que tenho é que em algum momento passarei por momentos de dor. Normalmente eu tenho algum episódio de dor no ciclismo ou no meio da corrida (ou em ambos). O lado bom, é que por ser uma prova longa, dá tempo de a dor surgir e sumir (às vezes).

A prova é composta por 1900 m de natação, 90 km de ciclismo e 21 km de corrida, um Meio Ironman, ou como chamam agora - Ironman 70.3 (em alusão à soma das distâncias em milhas). Como hoje em dia o termo “Ironman” é uma marca, a prova não pode levar esse rótulo.

Sempre faço essa prova com 2 objetivos: 1. Completar; 2. Tentar quebrar a barreira das 5 horas. Até hoje completei todas em que larguei, mas o lance das 5 horas fica cada vez mais distante à medida que os anos passam. Se por acaso eu conseguisse repetir as minhas melhores parciais (e transições), todas juntas no mesmo dia (o que é bem improvável), eu faria a prova em 5h 7 minutos. Em média eu consigo fazer as etapas nestes tempos: Swim: 30' - Bike: 2h 45' - Run: 2h; isso somado aos 5 minutos nas 2 transições dá uma expectativa realista de 5h 20, que fica bem dentro dos meus tempos até hoje (minha melhor marca foi de 5h 10’, em 2005).

Nessa distância, além das 3 disciplinas óbvias, uma 4ª disciplina cria importância - a alimentação durante a prova. Depois outra hora eu volto e falo sobre esse tópico, mas digamos que é um aprendizado constante e um processo de erro/acerto. Já tive anos em que comi demais (e iniciei a corrida como uma porca prenhe) e anos em que comi de menos (e iniciei a corrida bem levinho, mas afundei no km 15). A cada ano eu avalio o que fiz de certo e errado pra tentar melhorar no ano seguinte (não quer dizer que eu seja bem sucedido na tentativa).

Será meu primeiro ano nadando com roupa de borracha, o que deve me diminuir o tempo na natação em quase 2 minutos e o primeiro ano na categoria 35-39, o que não quer dizer muito já que somos os mesmos atletas que vêm envelhecendo e competindo juntos, mas digamos que eu serei dos mais novos na categoria (farei 36 anos 3 dias após a prova).

Nadar, pedalar e correr a gente tira de letra, difícil mesmo é achar um hotel decente no litoral norte, na região de Cidreira-Pinhal-Tramandaí. A cada ano fico em um local diferente e sempre saio do hotel/pousada com uma certeza - aqui não volto nunca mais.
Por que los hermanos conseguem e a gente não?
Os uruguaios parece que acharam a Galinha dos ovos de ouro em termos de organizar provas de triathlon. Há 5 anos não tinha nenhum triathlon no Uruguai, hoje eles têm 3 Half Ironman e um Ironman. As provas lá têm quase 500 atletas, as daqui não chegam a 150. Eles contam com patrocínios como Cannondale, Gatorade, Avia, Fiat, Movistar, Kleenex, McDonald’s, GT Bycicles, entre outros, além do apoio de todas as prefeituras e outros órgãos públicos.
Enquanto isso, aqui no RS, a Federação Gaúcha vai fazer 18 anos e acabei de ver o ranking desse ano: a “elite” do esporte se resume a 15 atletas (somando homens e mulheres).
      
Eles estão organizando um circuito com 4 provas por ano, para 2010:

Half Colonia (Meio Ironman) - www.halfcolonia.com   em 7 de fevereiro
Half Punta (Meio Ironman) - www.halfpunta.com  em 21 de março
Half Santa Fe (Meio Ironman) - www.halfsantafeciudad.com  em 24 de outubro
Iron Punta (Ironman) - www.ironpunta.com em 5 de dezembro

O meio Ironman de Punta que ocorreu em dezembro passado será repetido em março de 2010 (uma semana após a prova de Pinhal), e de 2010 em diante eles farão assim, em dezembro tem Ironman Punta e em março terá Half Ironman Punta.

Parece que o pessoal aqui do sul que quiser encarar provas longas vai ter que começar a atravessar a fronteira mesmo. Mas não dá pra culpar a organização brasileira, isso é assim para qualquer esporte no nosso país, ainda mais um esporte caro como é o triathlon.

O Metal amoleceu?

Há duas semanas fui ao show do Metallica em Porto Alegre, na World Magnetic Tour. Depois de mais de 20 anos ouvindo a banda finalmente fui vê-los ao vivo. Antes de ir me preparei para encarar um público “heavy metal”, muita gente de preto, couro, metais, correntes, headbangers, bebedeira, etc. minha irmã foi junto e pensei nela também, uma mulher de óculos no meio de pancadaria não é legal. Mas ao chegar ao show fui surpreendido pelo público.

O local do show era puro barro, do joelho pra baixo todos estavam marrons e com cheiro de Expointer (eu só levei um par de tênis, foi lindo entrar no hotel depois de meias e largar placas de barro no café da manhã no dia seguinte). Assim que me postei diante do palco disse pra minha irmã: isso aqui vai virar Woodstock e vamos sair daqui com barro até nas orelhas, mas felizmente me enganei.

O show começou com um atraso de 16 minutos (nem parecia Brasil) e foi uma apresentação extremamente técnica e competente do início ao fim. Nenhum traço de drogas ou bebedeira no palco como antigamente, nenhuma corda escapada ou nota fora do lugar. Parece que o que antes era valorizado (como derrubar uma garrafa de Jack Daniel’s entre uma música e outra ou fazer cara de mau) perdeu a graça e deu espaço à qualidade do espetáculo. Eu mudaria umas 5-6 músicas do repertório. Senti falta de coisas como Wherever I may roam, Whiskey in the jar, Until it sleeps e I disappear, mas tudo bem, o show não era só pra mim. A banda está no seu ápice, hoje eles estão melhores do que eram há 15 anos e com certeza dentro de 15 anos não terão mais o mesmo pique pois já estarão na casa dos 60. Nos closes que os telões mostravam do vocalista já podíamos ver na pele das mãos dele os sinais da idade, todo mundo envelhece né, a diferença é que eles envelhecem com plateia. Demorei para vê-los ao vivo, mas vi na hora certa.

Mas o título do post é realmente pra falar da mudança naquela imagem que se tinha um tempo atrás de plateia de show (e até dos músicos) de heavy metal. Ao longo de todo show o que eu vi à minha volta foram homens grisalhos com seus filhos adolescentes, famílias inteiras, casais abraçados, meia dúzia de bebuns alegres, um maconheiro aqui, outro ali, mas nenhum stress, nenhum empurrão. Na verdade na saída do show um cara (trajando uma camisa da seleção argentina de futebol) esbarrou em mim e pediu desculpas (!!!??), onde já se viu “metaleiro” pedindo desculpas?

A conclusão que cheguei é que o público desses shows hoje em dia tem uma única intenção: assistir ao show e ver seu artista. Hoje, se eu tivesse filhos, teria medo é se eles me pedissem para ir num baile funk, forró, show de pagode ou sertanejo. Nada contra os artistas (menos funkeiro que não porque funk não é arte), mas parece que é nesses tipo de show que a violência está hoje em dia.

Nem o velho Ozzy pode mais comer morcegos no palco, pular então, nem pensar, com a artrose no quadril que ele está seria um desastre.

Próximo show: Guns n’ Roses, 16 de março.

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

Ah, o Avatar.

Após todo fuzuê na volta do filme eu tinha que ver, mas sempre que fazem muita propaganda eu vou com um pé atrás, ainda mais quando dizem - “é um filme que muda a nossa maneira de encarar o mundo”. Quando a coisa é muito idolatrada, como Paulo Coelho ou Kurt Cobain, eu já fico com um pé atrás.

Não cheguei a me desapontar porque na verdade eu já não esperava muito. Visualmente o filme é revolucionário e muito bonito. São mais de 2 horas de demonstração do que a computação gráfica é capaz hoje em dia, mas em termos de roteiro é tão estimulante quanto aqueles filmes da Sessão da Tarde em que os bichos conversam entre si ou que duas gêmeas não sabiam da existência uma da outra e trocam de lugar por algum tempo. Os aspectos que eu admiro no filme eu conheci ao assistir alguns making of’s do flime, ou lendo no jornal sobre a elaboração da coisa toda.

O que me chama a atenção é a facilidade com que as pessoas se dizem conscientes ou influenciadas por estas mensagens do tipo “vamos salvar o planeta”, mas nada fazem para mudar a situação.

Na saída do cinema uma conhecida (estudante de biologia) disse estar emocionada com a mensagem do filme e eu comentei com ela: “bobagem, o pessoal não está nem aí pra mensagem ecológica”; e ela retrucou: “discordo, as pessoas estão bem mais conscientes sobre essas questões ambientais”.

Na hora eu não falei nada porque não tenho intimidade com ela, mas vamos analisar a diferença entre o dizer e o fazer. Essa pessoa que se diz “consciente”, antes de iniciar o filme comprou para ela e seu namorado: 1 refrigerante em lata, 1 refrigerante em garrafa plástica (ambos acompanhados por canudos plásticos), um saco de salgadinhos e 2 saquinhos de Bib’s (tudo claro, embalado em plástico). Saímos de casa para ir ao cinema após a janta, portanto todos estavam alimentados. Não vou nem entrar nos aspectos de saúde dessas compras.

Pergunta: ela ou o namorado estavam perto de ter hipoglicemia e tinham necessidade em consumir aquilo? Estavam perto de uma desidratação? Creio que não. Qual era a necessidade real para comprar tudo aquilo e liberar no ambiente esses dejetos plásticos?

Ok, eu sei que individualmente nosso papel não é tão significante assim. É óbvio que ela nem pensou naquilo, simplesmente por hábito cinema = comida+bebida, e mesmo que as pessoas se digam sensibilizadas pela mensagem deste filme ou de outras mensagens, mudar a maneira de pensar infelizmente está longe de mudar a maneira de viver. As pessoas são conscientes e defendem muitas bandeiras, desde que não precisem mudar nada em suas rotinas.