Mr. Domingues

Sempre ouvi que escrevo demais, e-mails longos, cartas intermináveis para namoradas, nunca consegui usar Post-it, enfim, bem ou mal eu gosto de escrever. A intenção é que isso aqui sirva como uma "descarga mental" onde comento fatos, acontecimentos e pensamentos, na verdade, tudo que me der vontade. Sabe quando se vê um filme, lê um livro ou algo no jornal e ficamos com vontade de discutir com alguém sobre o assunto? É pra isso que esse espaço serve, assim eu incomodo menos quem está à minha volta e começo a incomodar anônimos internet afora que queiram ser incomodados. Mas é claro que não vou fugir muito dos meus hobbies, interesses pessoais e profissionais, como saúde, atividade física, esporte, tecnologia e música.

quarta-feira, 30 de março de 2011

Half Punta - 2011


Depois de umas 3 tentativas em fazer o Meio Ironman de Punta del Este finalmente consegui ir. Em anos anteriores cheguei a me inscrever e reservar hotel, mas tive problemas de saúde, falta de tempo ou de dinheiro. A viagem foi tranquila e tive a companhia de outros 2 triatletas, o Michel e a Aline que dividiram despesas, risadas, comida e muitas fotos. Eles, apesar de triatletas, não foram competir por razões diferentes, ele com uma lesão crônica no joelho não consegue correr mais de 10km e ela porque está engatinhando no triathlon e ainda é cedo para um meio ironman.
Paradinha no Chuy pra pequenas compras e almoço e o Michel comprou o que iria lhe acompanhar por toda viagem e rolava de um lado pro outro dentro do carro - um travesseiro de M&M’s. Já de saída uma coisa inusitada e um aviso a quem não sabe. Para entrar no Uruguai a policia exige identidade, mas eles não aceitam a nossa carteira de motorista. Eu tinha identidade normal, carteira de motorista e a carta verde para andar com o carro no Uruguai. O Michel só tinha carteira de motorista (sifu) e a Aline tinha a de motorista e uma identidade de quando ela tinha uns 12 anos (sifu também). A foto dela é tão antiga que eu nem conhecia ela na época. Eu poderia entrar no país, mas eles não. Teriam que ir a Santa Vitória fazer uma documentação. Nisso, um motorista de ônibus que estava perto disse rindo - “ele tá se fazendo, quer dinheiro, bota 30 pila no bolso e vai conversar com ele, mas não leva mais porque ele vai querer tudo que tiveres no bolso”. Ao mesmo tempo o ônibus dos triatletas de PoA estava na aduana e o Alex Azambuja estava com a papelada de todos. Nenhuma encrenca pra eles. Até que o policial chama o Michel pra trás do balcão e diz que dessa vez vai nos dar uma força (mui amigo), mas pede que a gente deixe uma gorjetinha pra cerveja. Suborno declarado na fronteira e 90 reais depois nós entramos regularmente no país vizinho. Aí eu fiquei pensando, quantos brasileiros tentam entrar no Uruguai diariamente e só levam a carteira de motorista? Os policiais devem viver bêbados de tanta cerveja. Dia perfeito pra viajar. A Aline dirigiu o tempo todo e eu trabalhei no computador no banco de trás. Chegando a Punta fomos a 3 lojas de material esportivo e o Michel comprou um wetsuit, mas com certo suspense porque ele não sabia a senha do cartão. As funcionárias da loja não entendiam muito bem quando eu falei que esse era o problema desses cartões achados na rua, a gente vai tentando senhas até bloquearem. Mas para sorte dele, em crédito internacional só pedem assinatura e não pedem senha. As atendentes só acharam estanho quando ele passou o cartão deu tudo certo e nós comemoramos. No shopping tiramos uma foto com um boneco do Justin Bieber em tamanho natural. As guriazinhas na volta não devem ter entendido. Ficamos num hotel perto dos 2 lados das praias (Brava e Mansa). Jantamos numa pizzaria onde tenho certeza que as pizzas são feitas com maçarico porque o pão é mole, nem um pouco queimado, e somente o queijo está derretido por cima. Programa perfeito antes de dormir para desestressar - assistir South Park e Bob Esponja em espanhol. No dia seguinte tinha congresso técnico, retirada do kit e almoço dos atletas. No almoço dividimos mesa com o Diego Ciani, triatleta argentino de 52 anos que viu o Oscar Galindez gurizinho iniciando. Na verdade ele hoje pertence a um programa solidário do Galindez que dá auxílio técnico e material para triatletas. Gente fina, só tem aquela mania de argentino de ficar beijando a gente, mas tudo bem. O tio de 52 anos chegou antes de mim. Adoro ver gente mais velha do que eu me ganhando. Me passa uma sensação de que ainda tenho muito pela frente. No almoço finalmente encontramos com o Pablo de Pelotas. Toda função do evento foi no Cassino Conrad que tem aquele ar de filme, com limusine na porta muito mármore, muito luxo e muita gente velha de muleta, andador e aparelho de surdez gastando tudo que conseguiu juntar durante a vida (antes que algum parente gaste). Curiosidade do almoço servido no Conrad para os atletas - sobremesas lindas, muita massa, saladas, mas apenas um tipo de carne: camarão. Em 2 tipos de preparo, mas não tinha escapatória, a única carne no almoço era camarão gigante. Adorei, mas pensei em quem tem alergia ou não gosta. Fui solidário com essas pessoas, e em homenagem a eles fiz um minuto de silêncio e logo em seguida comi camarão até me dar dor de cabeça. O Michel e a Aline foram usar a casa de Câmbio do Cassino e de troco deram pra eles tickets pra jogar - eles perderam 2 dólares apenas em 40 segundos de pura diversão e adrenalina. Além desses afazeres do evento, demos uma de turista - passeios de carro e a pé (meus companheiros de viagem pareciam não entender que na véspera de um ½ Ironman a gente não tem muita vontade de caminhar, mas a gente vai na parceria). Também conhecemos a estrada em que seria o pedal (asfalto maravilhoso, mas um sobe e desce desgraçado). Nesse dia o mar estava perfeito para natação e encontramos um pessoal de PoA dando uma soltada na água. No trajeto do ciclismo, na véspera da prova, já tinha uma barraca de vender material esportivo. À tardinha eu peguei minha cruz (notebook) pra trabalhar um pouco enquanto o Michel foi dar uma corrida e a Aline saiu pra caminhar e fazer fotos artísticas no porto de Punta (pôr do sol, leões marinhos, etc.). Preparação da bike pro dia seguinte, última revisada em tudo, 30 minutos de piscina térmica pra aquecer antes de dar uma alongada e fomos jantar. O Michel é um connoisseur de junk food e deixamos ele nos guiar pelo mundo da gordura saturada. Comi uma coisa que não comia desde o lançamento do Windows 3.11 - batata frita. Fomos num lugar comer Chivitos (um bauru pequeno demais para o recheio todo e que vem com batata frita). Não morri como previsto por Nostradamus. Manhã da prova, rotina de sempre, engolir comida sem sentir direito o gosto, quarto escuro pra não acordar os outros (nessas horas é incrível como sacos plásticos fazem barulho, tem que ter uma explicação acústica pra isso). Ir ao troninho 2-3 vezes e checar as coisas pela enésima vez. Mesmo no hotel já dava pra ouvir que o vento tava forte. Chegando ao local da prova vem a notícia do Pablo: “vai ser duathlon. É sério”. O Sandro de PoA quando me viu já veio rindo - “adorasses a surpresa né?” A manhã estava muito ventosa e fria. Não tinham liberado a natação por causa do vento e da corrente que entrou com a frente fria. Eu olhando de fora achei que dava tranquilo, mas... los hermanos são mais ariscos pra água. E nessa hora pensei - se tá muito vento pra nadar, deve estar uma delícia pra pedalar. Não tinha como aquecer, pouco tempo e muito frio, estratégia mental de prova alterada em meio minuto de reflexão. Antes eu pretendia largar a 110% na água, pedalar forte e correr com o que sobrasse, mas é bem diferente iniciar a bike já tendo corrido, ainda mais num terreno estranho pra mim, com muita subida (um total de 10 escaladas no ciclismo).
Queria ter mudado o figurino também, mas não deu. A prova seria de 5,4km de corrida, 86km de bike e 21 km de corrida. Larguei com o Pablo e concordamos que iríamos fazer um trote entre amigos só pra aquecer porque sabíamos o que vinha depois. O ritmo tava tão calmo que conversamos o tempo todo, saímos juntos da transição com as bikes. O ciclismo foi algo à parte, existiam locais em que o vento dificultava e locais em que a subida dificultava, entre uma coisa e outra eu curtia a paisagem que é o que tem de melhor nessa prova. Pra quem conhece Punta, o ciclismo é nos morros de Punta Ballena, passando pela entrada do ponto turístico Casa Pueblo, tudo feito numa estrada à beira-mar. Depois de largar a bicicleta a gente tem que correr né, e as pernas já vinham bem meia boca, mas faltavam só 21km. Em resumo, fiquei curtindo aquela paisagem e me bronzeando por 5 horas. Recomendo a prova a todos que possam ir, gostei muito do evento mesmo e irei todo ano se for possível. Local lindo, comida uruguaia, asfalto perfeito, marcação de tempo por chip, abastecimento de alimentos e hidratação muito bem feito. Colocação? Não faço ideia porque o site ainda não tem os resultados, mas a minha categoria era a maior e tinha uns 35 inscritos, eu devo ter chegado entre o 4º e 34º na categoria com certeza. Os organizadores tiveram um problema jurídico no dia da prova e não sei se isso está atrapalhando alguma coisa porque até prisão deu, o Deco colocou os detalhes no blog . Pelo menos pra mim nenhum problema jurídico teve impacto. Uma coisa que me atrapalhou mesmo foi um pedaço de sola descolado dos tênis que vinha batendo palmas do km10 em diante. Logo após a chegada, tomar banho, comer pra pegar a estrada em seguida. Mas a pessoa aqui meio abalada com a mistura de adrenalina e cansaço não tava coordenando nem comer direito e dei uma mordida na minha língua como nunca visto antes da na raça humana, a foto da língua é de 48h após o acidente. E o garçom do café em que fomos cismou comigo que os meus pratos dariam para 4 pessoas e eu insisti - é só pra mim mesmo, pode trazer meu querido, fica tranquilo. Minha irmã que adora cortar e costurar disse que daria pra dar um ponto na língua, mas eu achei meio radical demais e deixei criar um coágulo mesmo. Só dói pra comer. Iniciei a viagem de volta dirigindo os primeiros 220 km e entreguei a direção pra Aline no Chuy (depois dela ter sesteado no banco traseiro enquanto eu e o Michel discutíamos fatos relevantes sobre o Heavy Metal americano e britânico nos últimos 30 anos). Na aduana brasileira fomos parados e como a bike estava impedindo de abrir o porta-malas, a fiscal primeiro perguntou: compraram alguma coisa? Eu respondi: bolacha, muitas Cerealitas e Toblerone. Falamos que vínhamos da competição. Ela entrou no carro e ficou fuçando nas nossas coisas. Bem simpática a moça, pequerrucha e aparentando ter uns 25 anos. Simpática até ela pegar a roupa de neoprene do Michel e puxar a nota fiscal. Todos gelamos. Ela guarda a nota e diz: podem seguir. Dentro do carro fomos ver o valor da roupa dele e ficamos pensando “será que passou dos 300 dólares e ela foi parceira?” aí o Michel pega a nota e começa a rir - a roupa custou 299 dólares. Ano que vem se volta lá, espero que dessa vez pra fazer um triathlon mesmo, de preferência com menos vento.

5 comentários:

  1. Apenas uma correção, as carteiras de identidades não podem ter mais de 10 anos. Tu também nao entrarias. hehehehe!!! Quem pensar em passar pela aduana, verificar a data de emissão, se tiver mais de 10 anos procure fazer outra.
    LINDAS FOTOS!!! kkkkk

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  2. Show o post Marlos, rico em detalhes, parecia que estava la com vocês.
    Próximo ano farei o possivel para estar na prova.
    Abração

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  3. Fala Marlos.

    Foi uma pena que não teve natação, julgando pelo olhar dava para nadar tranquilo, mas como não conhecemos aquele mar, já é outra história.

    A duplinha, vento e subida realmente foram adversários que dificultaram a prova, mas o visual e aquele asfalto perfeito compensaram as dificuldades.

    Não te vi depois que acabei a prova, então fica aqui o agradecimento pelo advil, com certeza deixou minha corrida menos sofrível.

    Aproveito e agradeço aos teus "staff" particulares pelo apoio e pela produção cinematográfica heheh

    Abraço até a próxima

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  4. Que texto longo. Seu idiota, agora vou me atrasar pra aula.

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  5. Ahhh ducaralho o post, recém agora fui ver, tava bom demais, já to com saudades dos meus M&Ms!!!

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