Previsão de chuva pro show do U2, medo de ficar longe do palco, tomar um banho e não ver direito. A banda promete que o palco 360 graus (que parece uma aranha de 4 patas) permite que todos assistam tudo com suas passarelas que andam, bateria que gira, telão de LED 360 graus, etc., mas eu estou (mal) acostumado com área VIP, na cara dos músicos. Só que colado no palco do U2, além de impossível conseguir comprar, custava mil reais. Outro detalhe, com o show à parte que é a iluminação do palco, quem fica na Red Zone (vip) fica de cara com o Bono, mas perde bastante do efeito visual do palco. (ok, meio desculpa de quem não ficou colado no palco). Comprei ingressos para “arquibancada vermelha especial” do Morumbi porque foi o que deu pra conseguir. A procura por esse show foi tanta que seria apenas um show no Brasil, mas resolveram fazer 3. E o site (que aguentou numa boa a venda do show do Paul McCartney), ficou completamente congestionado, os 3 shows esgotaram. Não choveu como previsto, noite estrelada. Eu poderia ser esperto e parar o post por aqui dizendo que o show é indescritível e que nenhuma foto ou vídeo consegue mostrar o que é a coisa ao vivo, mas.....
Já ao entrar no estádio (20:00) e me deparar com aquela enorme estrutura foi impactante, a impressão é de se estar no set de filmagem de uma ficção científica. Fui com a minha irmã e nos sentamos ao lado de um casal de mineiros que chegaram ao estádio às 16h (fizeram bate-volta BH-SP-BH, sem pausa pra banho/dormir). Existiam 2 tipos de banheiro no Morumbi: feminino e unisex. Devido ao grande número de mulheres e ao tempo maior que elas levam, a fila do feminino era infinita. Aí fizeram o seguinte: entrava um grupo de 20 mulheres no banheiro dos homens, depois que elas saíam, entrava um grupo de homens e iam alternando. Mas claro que a sincronia não era perfeita, ou seja, acabou que no lado dos homens o negócio virou unisex, com as gurias usando os vasos e os homens os mictórios em pé. Abertura da banda Muse. Interessante o som dos caras, mas não dá pra digerir assim na primeira ouvida. Achei uma mistura de New Order - Radiohead - Rage Against the Machine (se é que isso é possível). Eu não conhecia a banda, mas entre os 89 mil presentes tinham vários fãs da Muse. Às 21:40 os 4 irlandeses aparecem sem muito glamour, com as luzes acesas e se posicionam nos seus lugares para um show de 2h15. Mais uma vez eu me esqueci de levar algodão pros meus ouvidos. Quando tinha banda eu ficava com os ouvidos zumbindo após ensaios e fico assim após shows também. Se botar algodão no ouvido não fica zumbido e dá uma filtrada no som. O meu ouvido esquerdo já não é o bicho porque eu ensaiava de lado pra bateria. (lembrando que sempre que ficamos com ouvido zumbindo é sinal de que ouve prejuízo irrecuperável à audição).
Por falar em som, o único ponto que eu melhoraria no show era a qualidade do som. Os auto-falantes principais ficam pendurados na volta da estrutura, tinha volume, mas o som poderia ser melhor. Falta algo para funcionar como concha acústica. Por falar em som, sempre que vou ao Morumbi penso - como fica o hospital (Albert Einstein, ao lado do Morumbi) num dia de show? Eu penso em alguém que esteja se recuperando, com dor, tomando algum remédio pra tentar dormir. Não levei máquina fotográfica porque sabia que não conseguiria fazer fotos muito boas e com certeza esse show é o que mais tem fotos/vídeos na internet, se botar “U2 360” no Utube ou Google Images vem uma infinidade de coisas. Além disso, o Bono disse que esse show seria filmado e recomendou que o pessoal baixasse pra guardar de lembrança. Nos anos 80 a gente alugava VHS em locadora e ia pra casa de alguém, juntava dois vídeo-cassetes e pirateava as fitas pra ver 150 vezes a mesma coisa. Geralmente vídeos de shows e surf (com som horrível e imagem cheia de chuvisco). Eu lembro de adorar ver incontáveis vezes aquele vídeo Rattle & Hum (1988) e minha música favorita era "Where the streets have no name", com aquela iluminação vermelha e o Delay interminável da guitarra do Edge entrando devagarinho. E ali estava eu, 20 e poucos anos mais tarde, assistindo aquela cena ao vivo, com a mesma iluminação vermelha, todo arrepiado e me perguntando - como é que esses caras conseguem fazer isso por tanto tempo? É tipo: “Sir Paul McCartney, como o senhor ainda consegue ter vontade pra sentar ao piano e cantar Let it be?” Músicas dispensáveis do show: a participação do Seu Jorge cantando em inglês uma música do Kraftwerk em ritmo de bossanova foi totalmente fora de contexto, também não me agradaram "Even Better Than The Real Thing" (numa versão quase irreconhecível), "Miss Sarajevo" e "Hold Me, Thrill Me, Kiss Me, Kill Me". Momentos legais que marcaram o show: o Bono pega uma guria da plateia, senta com ela e mostra um texto, ela começa a ler e percebi que era a primeira estrofe de “Beautiful Day”, mas em português. Antigamente o Bono fazia um discurso sobre “crianças africanas - AIDS - fome - anistia” antes da música “One”, agora o discurso dele foi abolido e antes da “One” eles projetam nos Leds uma fala bem breve e interessante do Prêmio Nobel Desmond Tutu, aí quando entrou o primeiro acorde o mineiro que tava do meu lado com a namorada falou - “nóóó, tô repiado” (em Minas Gerais eles falam nóóó ao invés de nossa).


