Mr. Domingues

Sempre ouvi que escrevo demais, e-mails longos, cartas intermináveis para namoradas, nunca consegui usar Post-it, enfim, bem ou mal eu gosto de escrever. A intenção é que isso aqui sirva como uma "descarga mental" onde comento fatos, acontecimentos e pensamentos, na verdade, tudo que me der vontade. Sabe quando se vê um filme, lê um livro ou algo no jornal e ficamos com vontade de discutir com alguém sobre o assunto? É pra isso que esse espaço serve, assim eu incomodo menos quem está à minha volta e começo a incomodar anônimos internet afora que queiram ser incomodados. Mas é claro que não vou fugir muito dos meus hobbies, interesses pessoais e profissionais, como saúde, atividade física, esporte, tecnologia e música.

quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

21º Triathlon Internacional de Santos - 05/02/2012


A prova de Santos foi o primeiro triathlon brasileiro sobre o qual eu li. Lá por volta de 1994-95 eu já tinha ouvido falar do Ironman do Hawaii, e pra mim somente aquilo era triathlon. Com as revistas de ciclismo da época, como a Trekking que eu descobri que existiam provas menores e ainda por cima no Brasil. Santos, que iniciou em 92, era “A” prova no Brasil e tinha caráter internacional, com gente do nível do Mark Allen, Ken Glah, Michellie Jones e Carol Montgomery. Até hoje a prova segue com o nome de Internacional, tanto é que somente 2 homens e 2 mulheres brasileiros venceram até hoje, mas com a fartura de provas ao redor do mundo, cada vez é mais difícil vermos estrelas internacionais viajando para a América do Sul. Eu comecei a nadar em 1980, mas foi nessa época (1995) e por ver que existiam provas menores, que eu resolvi começar a treinar corrida e ciclismo (MTB), mesmo achando que jamais chegaria a fazer um triathlon porque: não existiam provas perto de mim e os equipamentos eram muito distantes da minha realidade. Alguns anos depois que eu vim a descobrir as provas menores que eram feitas no RS mesmo e que eu poderia fazer triathlon sem usar uma bike que custasse o preço de um carro. Considerando que numa época pré-internet e sem divulgação na mídia, essas eram informações de difícil acesso.
Até que, quase 20 anos depois eu resolvi fazer a prova de Santos pra ver como era. O fato de ter um grande amigo e esposa (Giovanni e Aline - aqui chamada “Aline do Giovanni” pra não confundir) morando a 2 quadras da praia em Santos, me convidando pra passar uns dias por lá também colaborou para que eu decidisse ir.
A viagem foi tranquila, apesar de que viajar com bike nunca é algo 100% tranquilo, tanto por precisar carregar, explicar, pagar bagagem extra, quanto pelo stress de pensar "será que a bike vai chegar comigo, e vai chegar inteira?". Já tava a fim de dizer que eu carregava corpos naquele caixão preto. E na rodoviária de PoA um garçom me perguntou se a bike custava mais de 10 mil. Eu estava com meu celular em cima da mesa e falei pra ele: tu realmente acha que se eu tivesse uma bike tão cara eu ia ter esse celular e estar aqui fazendo lanche na rodoviária, esperando ônibus?
Cheguei a SP na quinta-feira com quase 1h de atraso, mas tudo bem, o Giovanni estava esperando e em 50 minutos estávamos em casa. Foto prometida pro Fabrício com a camiseta que me deu de presente.
Jantar, fofocar sobre os conhecidos e montar a bike na sala pra ver se nada foi avariado. Na casa do Giovanni tem uma pantufa com cara de Ewok, que eles chamam de Laila.
Na sexta pela manhã fui reconhecer a praia. Água estava escura e areia fina, me senti no Cassino, com a diferença que não tem vento.

A cidade me pareceu ser boa, pensei que fosse uma cidade muito portuária, suja e velha, mas mudei de opinião muito rápido, é uma cidade média com algumas coisas boas de cidade grande, mas sem o stress e as distâncias de uma cidade grande, acho que eu moraria bem por aqui. É bem nítida a convivência lado a lado da velha Santos das casas portuguesas, prédios tortos da década de 40 e 50 (que afundaram como a torre de Pizza) e os prédios modernos das empresas da área portuária e residenciais que estão sendo construídos. O barulho de obra é constante pela cidade e a cada 2 quadras vemos um prédio de 12-15 andares sendo erguido. Lado ruim em comparação ao RS é o calor e para morar nos lugares mais bonitos (perto da praia) pelo que pude perceber a única opção é morar em apartamento, o que não me agrada.
A localização do apartamento que fiquei foi perfeita, perto de um shopping (comida+cinema+ar condicionado), a 5 minutos da praia e no prédio tinha piscina, sauna e academia, além da MTB emprestada do parceiro pra passear pela orla. O visual do por do sol da piscina na cobertura era demais também.

Quando saí pra caminhar na manhã de sexta, a temperatura estava em 29ºC (antes das 9h) e quando voltei lá pelas 11h já tinha chegado aos 33ºC. Eu estava torcendo para que fizesse muito calor no dia da prova porque aí aquele pessoal que tem vocação pra camelo se dá muito mal. Diferente de mim, que chego barrigudo, mas tentando ficar sempre hidratado.
Esse ano nenhuma estrela internacional na prova, nem o argentino (já brasileiro) Oscar Galindez. Mas entre os mais conhecidos estão Danilo Pimentel, Adriano Sacchetto, Reinaldo Colucci, Fred Monteiro, Felipe Manente (o único Pro com quem eu já tive contato porque fizemos um curso juntos), e entre as mulheres a eterna campeã dessa prova Carla Moreno e a nova geração com Ariane Monticeli, Fernanda Garcia e as "Caróis" Furriela e Galvão. Pra variar, a minha categoria (M35-39) é a que tem mais inscritos (pelo site, 153 atletas).
Sábado de descanso, passeios pela cidade e congresso técnico/retirada do kit. O local para isso foi péssimo, estava uma sauna. Dei uma entrevista de 1’ para a Funf Sports lá na Expo depois da retirada do kit, mas não achei no site o vídeo. Eu pedi pra eles que só colocassem no ar se a luz tivesse me favorecido.

Domingo, manhã da prova, ritual de sempre e já deu pra perceber que a temperatura não seria tão alta quanto nos dias anteriores (creio que não passou de 31-32ºC).

Na última hora, conversando com a Aline (triatleta) e o Giovanni, decidi não ir com roupa de borracha, primeiro porque estava muito quente e segundo porque se a roupa ficasse minimamente mal posicionada no meu ombro poderia ser muito pior.

Na natação eu sabia que sentiria o peso de ter passado por um ano bem conturbado com vários meses sem piscina e ter ficado fora da água do meio de novembro ao meio de janeiro por causa de lesão do manguito rotator (sequela do meu tombo em que quebrei a minha ex-bike). Essa lesão ainda não sarou e me faz nadar com um lado como se eu fosse um robô. Desde que retornei à piscina no meio de janeiro, até esta prova, eu fiz 10 mini-treinos e acumulei míseros 15 km nadados.
Essa prova seria diferente do meu normal já que eu estou acostumado nos triathlons a sair bem da água, perder algumas posições na bike e outras na corrida, dessa vez eu sabia que a prova seguiria um padrão diferente, principalmente por causa da minha natação prejudicada e porque ultimamente eu tenho me sentido muito bem correndo.
Acho que na minha categoria menos de 5% foram sem roupa de borracha, mas eu não me arrependi.
O meu tempo nos 1500 metros de natação (24') foi fraco, mas dentro do esperado pela falta de treino e lesão do ombro. Eu normalmente ficaria nos 10% mais rápidos da categoria na água, mas fiquei em 43º (lá pelos 30% mais rápidos). A T1 é relativamente longa (600 metros entre faixa de areia, asfalto e entrar na transição mesmo). No ciclismo era a estreia da minha Orbea Ordu, pena que fui com rodas de treino. Essa prova de Santos pede rodas aero.

Começo da bike muito tranquilo (apenas um susto com um cachorro), mas já vi que a quantidade de gente que iria pedalar junta era grande (lembrando que na minha categoria tinham por volta de 150 atletas que largaram juntos na água). Saindo do centro pegamos a rodovia, asfalto muito bom em 80% do trajeto na bike. A prova é mais ou menos 15 km dentro da cidade e 25 na rodovia. Fiz um ciclismo extremamente conservador por causa dos fiscais. No Ironman 70.3 de Penha eu fui penalizado em 5’ por vácuo e não queria repetir a proeza em Santos. Na dúvida, sempre que eu percebia a aproximação das motos dos fiscais eu praticamente parava de pedalar, me colocava bem à direita na estrada e batia continência pra eles. Assim que a moto se afastava eu respirava fundo e ultrapassava uma leva de ciclistas (gente de todas as categorias). Interessante que eu ultrapassei várias pessoas no ciclismo quando virou “contra o vento” (entre aspas porque sou de Rio Grande e não vi vento nenhum), mas pela minha colocação eu só ultrapassei gente de outras categorias (acabei a natação em 43º e o ciclismo em 43º também).
No final do ciclismo uma triste surpresa. Por não conhecer a cidade, eu vinha andando pelas ruas de Santos e controlando a distância pelo odômetro e GPS, e pensei - quando fechar 39km eu abro a sapatilha e fico mais atento porque a transição pode aparecer a qualquer momento. Até que quando eu tinha recém completado 38km, dou de cara com a transição e eu estava com as sapatilhas fechadas e encaixadas nos pedais. Fiquei meio sem saber o que fazer por alguns segundos, parecia minha primeira transição. Fiz essa T2 atrapalhada e demorada (pouco mais de 1 minuto) e saí pra correr.

Na corrida me senti bem o tempo todo, e ultrapassei muita gente fechando a corrida em 44', 18º na categoria.
Antes de viajar eu falei pros conhecidos que faria 2h15', consegui fechar 2h16'. Como o ciclismo era um pouco mais curto, mas em compensação eu não usei neoprene, ficou elas por elas e fiquei contente com o tempo final de prova.

Fiquei em 171º na geral (de 754 atletas) e em 35º na categoria (de 145 que completaram na 35-39). Com a natação bem treinada, roda aero e mais agressividade no ciclismo dá pra baixar de 2h10’ sem dúvida. (como o pessoal é parelho, com 2h10’ eu subiria 20 posições na categoria e 75 posições na geral).

Legal mesmo é ver gente na categoria 55-59 com tempo 10 minutos melhor que o meu e uma menina de 17 anos chegando em segundo na Elite feminina. Achei legal também a colocação da Aline porque sei que um pouquinho do resultado dela deve-se a algumas coisas que ensinei pra ela nos últimos 2 anos. Das 23 mulheres na categoria 30-34 ela fez a 3ª natação, o 5º ciclismo e a 2ª melhor corrida, mostrando que ela, apesar de ser ex-nadadora, está relativamente equilibrada nas 3 modalidades e conseguiu um lugar no pódio ficando em 324ª na geral e em terceiro na categoria com 2h 25'. Engraçado foi quando o meu amigo Giovanni perguntou - "cadê a Aline que não chega?" Eu olhei no relógio e fiz as contas pelo meu tempo e disse: se não deu nada errado ela deve chegar no máximo em um minuto. Levou uns 15 segundos pra ela entrar no funil de chegada. Por falar em funil de chegada, ponto negativo para a organização - o funil era em areia fofa, colocar cadeirantes em areia fofa, na reta final da prova no ponto máximo de cansaço, é sacanagem, mas...

Sem surpresas no profissional, Reinaldo Colucci e Carla Moreno (que após a prova pediram pra tirar fotos comigo e a Aline e claro que a gente fez a vontade deles, assim como a Cicarelli). Terceira vez em menos de 6 meses que enfrento o Reinaldo Colucci e pela terceira vez ele faz um tempo melhor que o meu. Agora me convenci que ele é mais rápido do que eu, mereceu o ouro em Guadalajara.
Em resumo, Santos é uma prova pra quem gosta de triathlon. Natação, ciclismo e corrida "de verdade". Não vou entrar na discussão do vácuo porque eu optei por fazer uma prova isenta de vácuo, fugi dos pelotões. E sem querer avacalhar outras provas que costumo ir (porque sei que é difícil organizar e conseguir locais), mas o lado bom de Santos é que é à moda antiga e é um trajeto que valoriza o atleta e não o público.
Sinceramente estou cansado de provas em que nadamos com água no joelho e depois ficamos dando 10 voltas na quadra em um pavimento horroroso, um ciclismo que mais parece um treino intervalado de alta intensidade, porque assim se ocupa menos espaço e fica bom pro público. Pretendo voltar lá mais vezes porque a época do ano é propícia para viajar, gostei da cidade e aproveito para rever um casal de amigos que foi morar longe.

No dia seguinte à prova, saí de manhã para uma pedalada pela ciclovia que acompanha toda a orla Santista, um pedal de 2h intercalado com paradas para fotografia e de tarde fui fazer um passeio de escuna pra me despedir da cidade.

E uma semana após a prova de Santos, vamos para a sétima prova de 2012 - Triathlon do Laranjal, que faço por ser “em casa” e porque junta quase toda a equipe Ironsul. Mas é a prova que eu menos gosto de fazer na temporada, justamente porque é do tipo que falei: natação com água no joelho e ciclismo com voltinhas na quadra num chão horroroso.

3 comentários:

  1. Tche...fosse até lá e não conseguiste ganhar do colucci, uma vergonha!!!! Parabéns pelo resultado, para um nadador, corrida excepcional.

    Se essa semana a lagoa não mudou em nada, a natação vai ser com água no tornozelo, pois no sábado estava mais rasa que no ano passado.

    Abraço, até domingo.

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  2. Bah, Marlos, 171 na geral, hein? Hehehe..

    E não tens o que reclamar na natação, tchê, pois pra quem "não tem ombro" o tempo que fizeste tá espetacular...

    Parabéns mesmo, baita prova e baita relato!

    Abraço e até domingo.

    Henrique.

    PS. A Cicarelli também te pediu autógrafo?

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  3. Oi Marlos,

    Muito legal o relato, parabéns pela prova.
    Estava lendo o post do acidente..coisa de "ninja" você ter saído ileso.
    Muita sorte! Agradeça a Deus, foi punk.

    Abraço e te cuida.

    Ferreira

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