Mr. Domingues

Sempre ouvi que escrevo demais, e-mails longos, cartas intermináveis para namoradas, nunca consegui usar Post-it, enfim, bem ou mal eu gosto de escrever. A intenção é que isso aqui sirva como uma "descarga mental" onde comento fatos, acontecimentos e pensamentos, na verdade, tudo que me der vontade. Sabe quando se vê um filme, lê um livro ou algo no jornal e ficamos com vontade de discutir com alguém sobre o assunto? É pra isso que esse espaço serve, assim eu incomodo menos quem está à minha volta e começo a incomodar anônimos internet afora que queiram ser incomodados. Mas é claro que não vou fugir muito dos meus hobbies, interesses pessoais e profissionais, como saúde, atividade física, esporte, tecnologia e música.

domingo, 12 de agosto de 2012

London 2012 - O Triathlon Olímpico em números.

Ao final de cada olimpíada, treinadores do mundo todo começam a fazer diversos cálculos para ver a realidade do atleta olímpico atual. A partir disso saem tabelas com valores de antropometria, variáveis de condicionamento físico, tempos para cada modalidade, etc.

Hoje em dia temos acesso a várias informações dos atletas, e com isso em mãos resolvi brincar um pouco com os números, usando valores médios. Eu sei que as médias são burras porque colocam no “mesmo saco” o melhor e o pior, mas quando falamos em alto nível, em que os valores se assemelham, a média nos fornece um panorama aceitável. Exemplo de média burra: fazer uma média de altura misturando alunos de um jardim de infância com um time de basquete adulto, e uma média não burra seria ver a média de altura somente dos jogadores de basquete, ou somente dos alunos do jardim.

Aqui nesse caso, eu brinquei com as médias dos triatletas que estiveram em Londres competindo na prova olímpica de 2012, no Hyde Park, uma população de 105 atletas que são o que há de melhor em seus respectivos países. Não misturei homens e mulheres (porque aí seria uma média mais burra) e pra quem entende de matemática, não usei medianas porque foram iguais às médias.

Estou desconsiderando as transições, creio que elas estejam incluídas no tempo da bike (dados retirados do site dos Jogos Olímpicos). Lembro que a bike nesta prova tinha 42,96km.

Prova feminina.

A foto mais divulgada no triathlon foi justamente a do Photo Finish com a chegada em empate técnico das atletas da Suíça e Suécia. As 52 meninas que completaram a prova apresentaram os seguintes valores médios, aqui mostrados junto com os melhores/piores tempos e com os tempos da nossa representante brasileira Pamella Oliveira.
Quanto as melhores são mais rápidas em relação às mais lentas?

Diferença em tempo e percentual entre o melhor e o pior tempo em cada modalidade.

Natação: 2’ 32” (13,0%)
Ciclismo: 5’ 43” (8,7%)
Corrida: 7’ 00” (20,8%)
Total: 12’ 21” (20,7%)

Os paces médios das gurias foram:

Nadaram a 1’18”/100m;
Pedalaram a 38,2 km/h e;
Correram a 3’37” / km

Infelizmente o único dado antropométrico que se tem disponível dessas atletas é peso e altura (e não sei se é confiável, ainda mais sendo mulher). Mas com peso e altura dá pra ter uma visão grosseira do corpo desse pessoal. O IMC (índice de massa corporal) não serve para falar de composição corporal ou % de gordura porque dá uma ideia de massa corporal somente. Mas numa população homogênea como essa, dá pra traçar um panorama do corpo das atletas com base no peso/altura.

Se estivéssemos falando de pessoas normais, quase 20% das atletas está na faixa da desnutrição de acordo com a Organização Mundial da Saúde (IMC abaixo de 18,5). Nenhuma novidade quando consideramos que em esportes de endurance e na ginástica existem dados mostrando até 60% das mulheres atletas com algum tipo de distúrbio alimentar, o mais comum - distorção da imagem corporal (mulheres magras se achando gordas).

Não estou dizendo que as atletas estejam doentes ou que devessem ganhar peso, mas só pra lembrar que situações de anorexia, bulimia e auto imagem distorcida, são muito mais comuns no meio esportivo do que se pensa. Basta recorrer à memória: alguém já viu uma atleta dizendo: “bem que eu poderia engordar uns 5-6 kg?”, mas ao mesmo tempo, quantos já ouviram mulheres visivelmente magras se achando acima do peso? Na maratona aquática nossa única representante foi retirada da água com hipotermia, coincidentemente ou não, ela era a atleta mais magra entre todas as participantes, e já teve o mesmo problema em provas anteriores - olhem o tipo físico de quem vence maratonas aquáticas: nada de definição muscular.

Mas voltando ao triathlon,

Acho que daria afirmar que, se a nossa Pamella Oliveira não tivesse caído no ciclismo, ela tinha uma grande chance de ficar entre as 15 melhores.

A julgar pela natação dela, somada à idade atual em relação à média, é perfeitamente viável que ela seja novamente nossa representante em 2016, com chances de boa colocação. Ela vai estar com 28 anos (média atual), possui uma natação acima da média e uma bike pelo menos na média (difícil avaliar com o tombo dela, mas creio que ela pedale acima da média). Ponto fraco a melhorar - corrida, porque apesar de estar na média, é onde ela fica mais longe das melhores.

A melhor corrida foi a da primeira colocada, a segunda pior corrida foi da última colocada. Nos homens isso vai ficar mais evidente ainda.

Prova masculina.

Falarei menos dos homens e sem discursos pros Brownlee brothers, desnecessário. São de outro mundo, mas ainda falta muito para eles serem considerados do mesmo patamar de importância atlética de Allen, Wellington, Phelps, Armstrong, etc. Acho que a grande contribuição deles pra modalidade tem sido: mostrar que, se o cara tem bala na agulha, dá pra sair na frente na natação, meter a cara no vento e fazer a melhor corrida. Javier Gomez chegou perto, mas que eu me lembre, ele não botou a cara no vento durante o ciclismo. Os irmãos mostraram que funciona nadar nos Top5, pedalar com cadência de 100 ou mais e correr num pace de 3/km com cadência de 90-100.

Um total de 53 homens completou a prova (Simon Whitfield, infelizmente desistiu com uma clavícula quebrada, mas o cara é um herói). Os homens apresentaram os seguintes valores médios:

Natação: 17’53” (1’11” / 100m)
Ciclismo: 58’15” (44,2km/h)
Corrida: 31’51” (3’11” / km)
Total: 1h 50’ 09”

Ou seja, o primeiro objetivo de qualquer triatleta que almeje se destacar na modalidade olímpica em nível mundial é nadar 1500m (com wetsuit) abaixo de 18’, o segundo é aguentar 1h acima de 44km/h na bike e depois disso, correr os 10km abaixo de 32’. Com isso, o sujeito consegue ficar “na média”.

Nosso melhor atleta foi o Reinaldo Colucci e coloco neste gráfico uma comparação dele e do outro brasileiro (Diogo Sclebin) com os melhores-piores tempos e o tempo médio.

Nos homens as diferenças são bem menores entre os piores e os melhores.

Pra se ter uma noção de onde estão as vantagens, coloco abaixo as diferenças entre os piores e os melhores tempos:

Natação: 2’ 3” (12,1%)
Ciclismo: 2’ 3” (3,5%) - graças ao vácuo temos essa diferença minúscula e irreal.
Corrida: 6’ 29” (22,3%)
Total: 7’ 5” (7,6%)

É notória a grande diferença proporcional na corrida, e isso se reflete nos seguintes fatos:
- quem fez a corrida mais rápida venceu a prova;
- quem fez o pior tempo na corrida chegou em último.

Essa relação da corrida com o resultado final é tão linear que, se as posições fossem definidas apenas pelo tempo da corrida, poucas colocações mudariam (nos 13 primeiros e nos últimos 17 nada mudaria).

Em suma.

Só reforça o que já se sabe, triatleta olímpico precisa: nadar muito bem e correr melhor ainda. Na bike se dá um jeito e as diferenças são pequenas graças ao vácuo. Olhando as diferenças entre mais rápidos para ambos os sexos.

As mulheres, no geral foram por volta de 12-13% mais lentas que os homens (normalmente gira em torno de 15% e é nesse aspecto que a Chrissie Wellington é considerada um fenômeno - a primeira mulher a ser menos de 10% mais lenta que os homens).

Abaixo uma comparação das médias entre homens e mulheres.

Na base esportiva.

Aquathlon é o segredo pras crianças, se a criança chega aos 12 anos com técnicas excelentes em natação e corrida, pode ter uma chance. A bike vai ter importância real lá pelos 18 anos e só vai ter utilidade se nadar/correr bem.

Além disso, por ser a modalidade menos técnica das 3, no ciclismo é onde o condicionamento puramente físico é mais facilmente treinável. E por ser na distância olímpica a maior proporção da natação, se não for um excelente nadador aos 16 anos, só poderá competir bem em nível mundial em distâncias de Half ou Full Ironman, onde a natação perde sua importância.

2 comentários:

  1. Prof. Marlos. 10 para o "trabalhinho".

    Em relação ao Alistar, concordo que não chegou ao mesmo patamar do citados, mas se ele resolvesse largar no mundial em Las Vegas do 70.3...eu apostaria nele fácil!

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  2. Show....

    isso que eu chamo de "sonho de números"

    parabéns

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