Mr. Domingues

Sempre ouvi que escrevo demais, e-mails longos, cartas intermináveis para namoradas, nunca consegui usar Post-it, enfim, bem ou mal eu gosto de escrever. A intenção é que isso aqui sirva como uma "descarga mental" onde comento fatos, acontecimentos e pensamentos, na verdade, tudo que me der vontade. Sabe quando se vê um filme, lê um livro ou algo no jornal e ficamos com vontade de discutir com alguém sobre o assunto? É pra isso que esse espaço serve, assim eu incomodo menos quem está à minha volta e começo a incomodar anônimos internet afora que queiram ser incomodados. Mas é claro que não vou fugir muito dos meus hobbies, interesses pessoais e profissionais, como saúde, atividade física, esporte, tecnologia e música.

quinta-feira, 8 de novembro de 2012

Marlos Going Down Under - Parte 1.

Desde os meus 14 anos eu queria conhecer a Austrália, principalmente porque os esportes que mais pratiquei (pegar onda, nadar e triathlon) são muito tradicionais lá. E as praias australianas em relação ao surf só perdem em glamour pro Hawaii. Minha mãe até brincava que se tirasse na loteria iria montar um centro de treinamento pra eu trabalhar na Austrália. Como fui estudante de Oceanologia também, perdi as contas de quantos vídeos assisti sobre a Grande Barreira de Corais australiana. Quando eu surfava (1988-1995) a “surf music“ que se ouvia era basicamente de bandas australianas (Hoodoo Gurus, Australian Crawl, Spy vs. Spy, Midnight Oil, Gang Gajang, Men at Work, Sunnyboys, James Reyne, INXS, etc.) e muitas das letras falavam de lugares que um dia eu queria conhecer, como as praias de Bell’s, Manly, Kirra, Noosa, Bondi e o Circular Quay de Sydney. Enfim, eu sabia que um dia iria lá, mas não sabia quando. Até que surgiu um evento (Congresso Internacional de Atividade Física e Saúde Pública) em Sydney e o meu grupo de colegas da área cogitou ir. Primeiro falamos de brincadeira em ir por causa dos custos e da distância, mas em seguida a brincadeira virou realidade porque a próxima edição desse evento será no Rio de Janeiro em 2014 e é o nosso grupo de trabalho que vai organizar o evento. Há exatamente um ano nós organizamos o equivalente desse evento em nível nacional aqui no Brasil (Gramado) e agora queríamos ver de perto como é um evento de porte mundial, com participantes de quase 50 países. Em janeiro de 2012 começamos a acertar os detalhes burocráticos, passagens, etc. Eu fui apresentar 2 trabalhos, sendo que um (apresentação oral sobre atividade física na gestação e neurodesenvolvimento infantil) foi indicado para o prêmio de melhor trabalho do evento. Fiquei entre os finalistas, mas não levei, só tive meus 7 segundos de fama.
Como não dá pra ir tão longe num bate-volta para o evento, planejamos a viagem para chegar 4 dias antes do evento e retornar 2 dias depois. Até porque ir até lá, sofrer com 3 dias de viagem, 13 horas de fuso, e não fazer um pouquinho de turismo é impossível.
Ir pra Austrália é fácil. A gente pega um ônibus até Porto Alegre, voa até São Paulo, voa até Santiago (Chile), voa até Auckland (Nova Zelândia) e chega a Sydney (Austrália). Somando tudo com os tempos de espera entre uma coisa e outra foram 38 horas; 27 horas em movimento e 11 horas esperando. Considerando que Sydney fica mais ou menos na mesma altura do Uruguai, reparem que esse sobe e desce até SP acrescenta 2 mil km inúteis à viagem. A viagem de volta foi mais curta porque não passamos pela Nova Zelândia e conseguimos fazer uma conexão recorde em Guarulhos de 50 minutos apenas, fechando “apenas” 28 horas de viagem (23 em movimento e 5 em conexões). Curioso dessa viagem mesmo é sair de Sydney às 11:30 da manhã e chegar ao Chile (depois de voar mais de 12 horas) às 9h do mesmo dia (sim, 2 h mais cedo do que saímos). A gente acorda na Austrália, entra num avião com sol a pino, o sol se põe um pouco e visualizamos um segundo amanhecer no mesmo dia, sobrevoando a cordilheira dos Andes. É um “dia” interminável de mais de 20h de sol.
Grupo que viajou no aeroporto de Auckland (New Zealand)
Fomos em um grupo de professores e afins: Airton e Rosi, Caco e Denise, Mário e Samanta, Pedrinho e Andréa (com 2 filhos), além dos avulsos Felipe, Marcelo, Fabrício, Alexandre (Sapinho), eu e a Mirella da Furg. A Mirella dividiu o quarto comigo, mas apesar da pouca intimidade, não tivemos nenhum desconforto já que geralmente eu saía de manhã antes dela acordar e chegava de noite depois dela dormir. Minha única preocupação era não acordá-la.
Antes de ir, eu preparei uma lista de lugares a visitar e coisas a fazer, mostrei a lista para dois ex-moradores de Sydney que me ajudaram a melhorá-la, mas sabia que não conseguira fazer tudo. Acabei conseguindo fazer 90% mais ou menos.

Dia 1 (25-27/10 - o dia 26 “não existiu”)
Viajando - na viagem de ida, o Sapinho levava um quadro como bagagem de mão para dar de presente a um parente na Austrália. Fazer 4 voos e conexões carregando um quadro e precisando desembalar ele a cada embarque é uma tarefa e tanto. Incidente: ele teria que entregar esse quadro em Townsville e no aeroporto de PoA me pediu ajuda para comprar passagem para o voo doméstico na Austrália. 40 minutos antes de embarcarmos ele se deu conta que havia comprado com a data errada e, devido ao fuso, o voo dele partiria em 4 horas, e ele em PoA ainda. Via Skype o Pedrinho conseguiu reverter a situação.
Escala em Santiago (juro que um dia eu vou a Santiago e saio do aeroporto, é minha quarta visita à cidade sem sair do aeroporto), e mais uma escala em Auckland, num aeroporto muito bonito. Chegamos sábado, antes das 9 da manhã a Sydney. No aeroporto de Sydney um Beagle farejador encrencou com a mochila do Fabrício, mas ele não foi preso. Em seguida avistei um homem com cara de vietnamita segurando um cartaz “MARLOS”, era o nosso motorista que largaria o grupo nos 3 hoteis.
Pra diminuir a sensação de fuso horário de 13 horas de diferença eu fiz tudo que mandam fazer, principalmente beber muita água na viagem e começar a viver no horário local o mais rápido possível. Assim, mesmo após quase 40 horas viajando, cheguei e não fui descansar, nem banho tomei. Larguei as malas no hotel e fui pegar a bike que tinha reservado pros 4 dias antes do evento.
As bikes alugadas (Trek FX 07) vinham com capacete (ridículo, mas que em seguida a gente parou de tirar pra fazer foto) e uma bolsinha contendo: mapa central de Sydney, câmara de ar, bomba, cadeado e espátulas. A guria da loja me disse: é bom tu usar o cadeado em alguns lugares porque existe a chance de roubo - eu ri e expliquei pra ela que sou brasileiro, como diria o Rambo “o que tu chama de inferno eu chamo de lar”. A intenção era nos dias que antecedem o evento conhecer os arredores da cidade de bike com o Felipe Fossati, meu colega na faculdade e ciclista. Já na chegada a Sydney, um fato que parecia de filme, ao pararmos na frente do Hostel onde alguns ficariam, um ônibus só com cheerleaders estava chegando. Apesar delas terem aparentemente menos de 16 anos, não dá pra não lembrar daquelas comédias adolescentes americanas ou comercial de cerveja. Naquela semana teria um campeonato nacional de líderes de torcida em Sydney.
Eu e o Felipe tivemos um “pequeno” desencontro e acabei indo pegar a bike sozinho. Ao sair da loja eu me perdi legal, quando percebi estava numa estrada de 4 faixas e passei a Harbour Bridge por acidente, quando eu vi o Opera House do meu lado, sabia que estava indo na direção contrária. Mas como estava naquelas auto-estradas sem opção de dar volta, segui numa boa, de bike no meio dos carros a 110 km/h. Se fosse no Brasil teria morrido, mas lá não ouvi nem buzina. Olhei meu mapa em papel que veio na bike e desconfiava de onde eu estava, mas parei e perguntei pra um passante. Ele indicou que eu estava mais ou menos “um palmo fora do mapa”. Depois de rodar quase 2h cheguei onde queria (o que normalmente levaria 15 minutos se eu não me perdesse). Encontrei o Felipe e fomos buscar a bike dele.
De cara fomos ao Opera House, que é o equivalente à Torre Eiffel pro turista de Sydney. Passamos pelo Royal Botanic Gardens (único parque em que não se pode andar de bike), demos umas voltas pelo centro até entardecer. Entramos pela primeira vez no Centennial Park, demos um laço em 2 japoneses que estavam com umas baitas bikes de estrada, mas quase tomamos uma surra duma guria pedalando (o Felipe filmou a perseguição). De noite assistimos ao show de fogos que todos os sábados acontece em Darling Harbour. É um evento fixo de quase 10 minutos de pirotecnia que sempre ocorre às 20h de sábados. Darling Harbour é um centro comercial/trapiche onde fica também o local do nosso evento, o Sydney Convention Centre. Jantamos (os “solteiros”) no Mama’s. Alguns locais visitados: Darling Harbour, Opera House, Royal Botanic Gardens, Hyde Park Centennial Park e bike shops.

Dia 2 - 28/10:
Nesse segundo dia, pegamos um barco do Circular Quay até o zoológico de Taronga. O resto do grupo iria fazer o mesmo, mas eles foram um pouco mais tarde e voltariam de barco, nós sairíamos do zoo de bike para ir em direção à Manly Beach. No zoológico passamos quase 4h caminhando pra ver os bichos, alguns soltos entre nós como os wallabies (primo do canguru), avestruz, pavão (que nos deu um show particular).
E bichos bem curiosos que só tem lá mesmo como o canguru de árvore (que eu nem sabia que existia), Diabo da Tasmânia e o clássico Koala (que é tipo um urso de pelúcia baiano).
Pra nossa desilusão não vimos nenhum canguru pulando.
Nesse dia eu não levei GPS, mas com certeza pedalamos pelo menos uns 90km e subimos muito, mas, quanto mais difícil era o morro, mais bonita era a vista. Ficamos impressionados com a calmaria que é a região de Manly Beach, alguns mirantes no alto das montanhas ficavam praticamente no pátio das casas e entrávamos para fazer fotos com as garagens abertas com carros, bikes e tudo mais que se coloca numa garagem e que no Brasil seria roubado em 10 minutos.
A rotina - desse dia em diante, até começar o evento, o dia-dia era muito parecido. Acordar 6:30 (sem despertador mesmo, único efeito do fuso), english full breakfast (cereal com iogurte, pão com geléia, torradas com omelete + feijão e frutas), ida ao banheiro, antes das 9h encontrava com o Felipe no meu hotel e saíamos para rodar. Passávamos todo dia na rua, nos perdendo e conhecendo o máximo que dava, praias, pontos turísticos clássicos, parques, piscinas públicas e lojas de ciclismo. Por volta das 13h a gente parava pra uma pequena refeição (cookies, bolinhos, banana Bread, suco e achocolatado) e quando chegava perto das 16h começávamos a pensar na volta para evitar pedalar de noite.


Lá pelas 19h era tomar banho e sair pra jantar e entrar em algum pub pra ouvir boas bandas tocando ao vivo e rir dos chineses dançando enlouquecidamente. Cama por volta das 11:30h. Nenhuma dificuldade para dormir apesar do fuso, provavelmente por causa do pedal o dia inteiro.
Geralmente tínhamos um ponto inicial como objetivo e, como nos perdíamos muito até chegar lá, acabávamos conhecendo diversos outros locais por acidente. Tínhamos mapas em papel, Iphone com mapas e aplicativos de localização, mas sempre confiávamos mais no nosso “feeling de macho” - “eu acho que é pra lá”. Normalmente levava quase 1h pra gente se render e pedir informação, e a pessoa que nos ajudava começava falando: “well, you’re going the wrong way, it’s far away, are you going by bike?” e sempre explicávamos que “não temo medo e temos o dia inteiro, metade pra ir e metade pra voltar”. Um diálogo normal entre nós dois era mais ou menos assim:
Marlos: tu acha que sabe chegar lá?
Felipe: temos que pegar a Cleveland Street e ir sempre
Marlos: eu acho que essa aqui é a Oxford Street, mas já mudou de nome de novo
Felipe: pode ser, não faz mal ..... a gente vai acabar passando no Centennial Park igual
Marlos: não cara, o Centennial Park é lá pra trás
Felipe: não, é mais pra frente
Marlos: Felipe olha lá onde tá a Sydney Tower (nossa “antena guia” no perímetro urbano)
Felipe: então tchê... (olhar perdido no horizonte)
Marlos: então o que Felipe?
Felipe: não sei....
Marlos: vamos olhar no mapa e achar essa esquina aqui, encosta
Felipe: a rua está certa, mas será que a gente tá indo pro lado certo?
Marlos: bom, olha pro sol, ainda temos umas 3h de luz, tá tranquilo, vamos mais uns minutos pra esse lado, se ficar feia a coisa a gente dá volta.

Pior é que em alguns locais a gente errava numa rota com subida, mas sempre achávamos o caminho de volta antes de anoitecer.
Alguns locais visitados: Taronga Zoo, The Spit, Manly Beach, Balmoral Beach, Rushcutters Bay Park, Queen Victoria Building e bike shops.
To be continued...

2 comentários:

  1. Poxa Marlon. Parabéns pelo texto e pelo blog.
    Tenho que criar vergonha e fazer algo parecido.
    Só para "descarga mental" mesmo. Vou começar a frequentar teu blog. Parabéns mesmo!!!

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  2. Eu ia esperar a parte 2, but...

    E o Crowie? o que aconteceu com ele em Kona? fizeste o planejamento do cara para 2013?

    Obs: Tempo maior que 2:30 dia 2 é inadmissível depois de pedalar tanto!

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