Mr. Domingues

Sempre ouvi que escrevo demais, e-mails longos, cartas intermináveis para namoradas, nunca consegui usar Post-it, enfim, bem ou mal eu gosto de escrever. A intenção é que isso aqui sirva como uma "descarga mental" onde comento fatos, acontecimentos e pensamentos, na verdade, tudo que me der vontade. Sabe quando se vê um filme, lê um livro ou algo no jornal e ficamos com vontade de discutir com alguém sobre o assunto? É pra isso que esse espaço serve, assim eu incomodo menos quem está à minha volta e começo a incomodar anônimos internet afora que queiram ser incomodados. Mas é claro que não vou fugir muito dos meus hobbies, interesses pessoais e profissionais, como saúde, atividade física, esporte, tecnologia e música.

sexta-feira, 16 de novembro de 2012

Marlos Going Down Under - Parte 3.

Para ler as partes 1 e 2 da viagem:
PARTE 1
PARTE 2
Dia 7 - 02/11:
Mais um dia de Congresso. O congresso em si me decepcionou um pouco. De certa forma, achei que muitos trabalhos apresentados não mereciam o status de estar num congresso mundial (deve ter sido por isso que um trabalho meu ficou entre os melhores). Espero que na próxima edição que organizaremos no Rio consigamos elevar o nível científico das sessões. Apesar dos mais de mil inscritos de mais de 50 países, em alguns momentos eu tive a impressão que houve pouca procura do evento (talvez por ser num lugar que é longe de tudo como a Austrália) e encherem muito da programação somente com gente australiana. Não que eles não sejam bons, mas eu esperava ver uma globalização maior e principalmente um nível mais alto de profundidade científica em muitas sessões.
Mas de manhã combinamos (eu, Sapinho e Marcelo) de ir conhecer a piscina do Ian Thorpe, que é ao lado do local do congresso. Ao meio-dia, após a manhã no evento, demos uma escapada para nadar um pouco e conhecer a piscina do “Thorpedo”, o Ian Thorpe Aquatic Centre. Eu imaginava que fosse algo bem comercial, explorando a figura dele, com muitos souvenirs do cara, mas não é nada disso. Trata-se de um complexo aquático (3 piscinas e sauna) que se paga para usar por dia ou mês. Apenas uma foto enorme do Ian Thorpe na entrada e uma lojinha da Speedo vendendo material básico de natação. Nem a estátua do Madame Tussaud do Ian Thorpe fica na piscina dele. Pra usar a piscina, paga-se o equivalente a 12 reais e se tem acesso livre por um dia, das 6:00 às 21:00 (ou quem paga por um mês, paga o equivalente a quase 200 reais).
Todas as piscinas da Austrália têm placas nas raias indicando a velocidade (rápida/média/lenta) e o tipo de nado (somente crawl ou qualquer nado) praticado naquela raia. Mas não quer dizer que eles respeitem muito isso. Além dessas, sempre existe uma raia para recreação e pelo menos uma raia em que tem aula de natação. É uma piscina pra quem quer realmente treinar, água a 27 graus, 50m, 8 raias, aproximadamente profundidade de 1,70m de um lado e 2,50m do outro. E claro, eles nadam ao contrário (vão pela esquerda e voltam pela direita). No banheiro, secador de cabelo e pés, sabonete líquido, etc.
Na hora de comer, antes de voltar pro Congresso, eu dei uma passada pelo Hard Rock Cafe Sydney (ao lado do congresso) só pra olhar as relíquias que eles guardam, alguns itens bem interessantes do Van Halen, Pink Floyd, INXS, Aerosmith, Red Hot Chilli Peppers, Stones, etc.
De tarde no congresso eu apresentei um pôster e ao encerrar fomos (eu, Marcelo e Felipe) para a torre de Sydney Sydney Tower Eye de onde se enxerga toda a cidade. Queríamos ir nessa hora para ver o anoitecer, podendo ver a cidade de dia, o pôr do sol e de noite.
Janta não lembro onde foi e depois uma passada nos pubs atrás de uma boa banda.

Alguns locais visitados: Ian Thorpe Aquatic Centre, Sydney Tower Eye

Dia 8 -03/11:
Último dia do congresso.
Tive a minha apresentação oral de manhã, o pessoal gostou bastante e foi esse o trabalho indicado ao prêmio de melhor do evento. Saí do congresso perto das 11h e fui com o Felipe pegar nossas bikes de estrada para o evento do dia seguinte. Fomos de ônibus até a loja (linha 339, da Central Station até Clovely), pegamos as bikes e conhecemos Clovely Beach (mais um dia nublado em praia pra acabar com as nossas fotos).
Mais uma piscina pública à beira-mar e uma escola de salva-vidas. E uma praia que não tem nem 100m, uma mini-baía de água azul cercada de pedras, lindo o lugar.
De tarde tínhamos a apresentação do Pedrinho para anunciar ao mundo sobre o nosso evento no Rio em 2014 e o encerramento oficial do congresso. Fim do evento e agora era esperar pela janta de encerramento. No fim da tarde fui dar uma nadada na piscina do Ian Thorpe com o Marcelo e de lá fomos direto para o Centro de eventos para a janta. Eu sem cueca, estava de sunga por baixo pra nadar, e esqueci de levar cueca, mas num evento social ninguém repara nisso.
Os australianos queriam mostrar tradição e ao abrirem as portas do local do jantar fomos recebidos com a música “Down Under” do Men at Work em alto e bom som. A comida estava boa, mas era naquele estilo francês, com pratos de 100g, e o vinho australiano é bom. Digamos que a razão comida/vinho estava pendendo muito para o lado do vinho. Não que tenhamos bebido demais na janta, mas talvez tenhamos comido de menos, ainda mais para quem tinha que pedalar às 6 da manhã do dia seguinte.
Saímos uma turma grande da janta rumo aos pubs. E as pessoas perguntavam pra mim e pro Felipe - “vocês vão pedalar mesmo amanhã de manhã?”. Claro que sim, hahahahaha.
Bom, caminhamos muito pela cidade e alguns pubs travam entrada quando enchem, outros estavam cobrando (porque era sábado) e seguimos procurando algum eu fosse de graça (não achamos). No caminho, naquelas combinações “eu vou ficar nessa esquina e esperar os outros, depois a gente alcança vocês”, acabamos “perdendo” o Felipe, que indo atrás de nós acabou entrando sozinho no Pub dos Macacos.
Pagou, entrou, fez xixi e saiu porque não achou ninguém. Foi pro hostel sozinho dormir. Eu acabei entrando num pub com a Valerie (que é americana, mas passou um tempo em Pelotas) e com 2 caras da república Tcheca. Um outro americano e 2 colombianas que estavam com a gente entraram também, mas tiveram que sair em seguida. Depois de girar um pouco, perder alguns e reencontrar outros, me certifiquei que o Felipe estava mesmo no hostel e fui me deitar. Acho que eram 3:30 da manhã mais ou menos. Tínhamos combinado de sair no dia seguinte antes das 6:30 para a pedalada de 90km até Wollongong.

Alguns locais visitados: Clovely Beach, Burrows Park, Ian Thorpe Aquatic Centre.

Dia 9 - 04/11:
The Gong Ride.

Este dia merecia um post em separado, mas serei breve.
Antes de ir pra Austrália nós ficamos sabendo que no domingo (último dia em Sydney) haveria uma pedalada para levantar fundos para pesquisa da esclerose múltipla - o Gong Ride. Alguns amigos que moram lá nos aconselharam a participar do evento. Eu me inscrevi antes de irmos e o Felipe não estava a fim de pagar e iria “no bolo”, mas sem registro.
Não é exatamente uma prova, não se compete, não existem vencedores, na verdade é uma “festa” em que 10 mil ciclistas saem do centro de Sydney, descendo 90km em direção sul, chegando a Wollongong.
Coloco aqui 2 imagens, uma do trajeto geral da prova com as estações e uma da altimetria do trajeto.
O primeiro trecho do trajeto é urbano/estrada, depois pegamos um trecho dentro do Royal National Park (floresta fechada com fortes descidas e subidas) e o último trecho é feito costeando várias praias e pequenos parques à beira-mar. A cada 10 minutos eu e o Felipe dizíamos um pro outro: “cara, olha isso aqui, essa casa, esse lugar, imagina morar aqui”.
Dentro do Royal National Park, antes das descidas mais fortes, um grupo de motos tranca a estrada, espera formar pelotões de 300 ciclistas mais ou menos e desce sem que ninguém ultrapasse as motos, para evitar os malucos ultrapassando os 90 km/h e perdendo o controle.
Não tem muito como descrever isso, talvez filmando tudo e editando depois, como esse cara fez - .
Não existe uma largada oficial com todos os atletas porque não é fisicamente possível agrupar 10 mil ciclistas. O ponto de largada é o Sydney Park e o pessoal começa a largar por volta das 6 da manhã e vai largando continuamente por mais de 3 horas.
O público é o mais misturado possível.
A gente vê pais com filhos, famílias inteiras, turmas de escola uniformizadas com seus professores, bicicleta com cestinha levando cachorro, pai com cadeirinha levando criança pequena, grupos de “senhoras” com bikes tipo Caloi Ceci. Pra quem não está com pique pra encarar os 90km, existe um segundo ponto de largada de onde quem larga completa 56km. Ao longo do trajeto existem várias paradas com pequenos lanches, água, banheiros químicos, assistência mecânica pras bikes nesses pontos e em motos pelo percurso, e o povo vai pra rua bater palma. No Brasil pedalar 90 km é coisa pra gente louca, lá é uma atividade familiar e comunitária.
Eu e o Felipe saímos do hotel mais tarde do que o esperado, e o nosso parceiro brasileiro que mora lá já tinha largado. Confesso que na primeira hora de pedalada eu senti um pouco o peso por causa do vinho da noite anterior. Quando começamos a pedalar vimos que, mesmo largando quase 2 horas depois do início da largada, o pelotão era muito embolado, de vez em quando conseguíamos pedalar de verdade, mas nos primeiros 20km tivemos que andar no bolo, bem devagar e parando nas sinaleiras.
Quando chegamos à estrada mais afastada do centro e as primeiras subidas começaram é que conseguimos pedalar um pouco mais. Como quase ninguém é atleta no evento, pra nós dois foi pedalar 90km ultrapassando gente. É sério, repito, que a quantidade de gente pedalando é algo que não tem como descrever, só estando lá. Imaginem que uma bike ocupa por volta de 3-4 metros, se fizéssemos uma fila indiana com todas as bikes seria algo em torno de 40-50km de comprimento de fila, é muita gente.
O Felipe tava preocupado no início porque começou a fazer as contas e achou que não fôssemos conseguir acabar a prova, voltar de trem e entregar as bikes alugadas a tempo. Mas a média começou a subir e nem tínhamos o que fazer mesmo, agora era ir em frente e aproveitar.
Do Km 40 em diante começamos a ver alguns ciclistas que largaram bem cedo e estavam fazendo o trajeto de volta (iriam fechar 180km).
Ao chegarmos a Wollongong, novamente nos apavoramos com a quantidade de gente. O pessoal ia chegando e colocava as bikes nuns racks pra ir pegar comida, tirar fotos, etc. é um mar de bike e gente e claro que ninguém se preocupa se vão roubar as bikes. Para muitos a pedalada era um desafio e tinha gente bem acabada, recebendo massagem e muito cansados.
Diversos grupos fizeram até uniforme para o evento e estes grupos faziam campanha para arrecadar verba, uma vez que o evento é beneficente. Nós 2 estávamos preocupados em ver como iríamos voltar de lá.
Peguei um “almoço” que tinha direito pela inscrição e dividi com o Felipe, em seguida fomos numa barraca e pegamos as pulseirinhas que nos davam direito a embarcar no trem pra voltar pra Sydney. Saíram trens em horários especiais para levar o pessoal de volta. Entrava ciclista e bike nos vagões para um trajeto de 1h40 até a Central Station de Sydney. Descemos na estação, fomos no meu hotel pegar tênis e seguimos para a loja devolver as bikes.
Tudo certo, com tempo de sobra. Volta de ônibus (na foto, o Felipe na parada depois de entregar as bikes - detalhe, na parada, livros para quem está esperando o bus ficar lendo).
No fim do dia fomos dar a última caminhada pelo The Rocks. No caminho encontramos alguns do grupo que nos avisaram que a janta seria com todo o grupo, numa pizzaria em Darling Harbour. Jantamos e fomos ao Cassino de Sydney ver gringos perdendo uma grana alta.

Alguns locais visitados: Wollongong, Royal National Park, inúmeras praias no trajeto, Stuart Park e fim de tarde no The Rocks assistindo um transatlântico ir embora da cidade em frente ao Opera House.
No dia seguinte, viagem de volta, encarando um dia com 40 horas de sol por causa do fuso horário e assistindo a 2 amanheceres, saindo de Sydney 11:30 da manhã, voando 12 horas e chegando a Santiago no Chile às 9:30 da manhã, do mesmo dia.

Somando tudo que pedalamos na Austrália, fizemos estes trajetos das fotos (um geral e outro em mais detalhe de Sydney mesmo), contabilizando um total aproximado de 400 km, quase 4 mil metros de ascensão em mais de 20 horas de pedal. Gastamos com aluguel de bikes 190 dólares. Depois nos demos conta que poderíamos ter comprado uma bike com esse valor. Mas tudo bem, valeu muito a pena cada dólar.

Apesar da falta de sol em vários dias, pelo menos não choveu e foi tudo muito bom. Na volta dá até certa tristeza, não só pelo retorno ao “mundo real”, mas também porque a gente fica pensando em como seria viver num lugar como aquele onde as coisas funcionam, se respeitam as leis, as pessoas são educadas, não se vive constantemente pensando que alguém vai te roubar. Quando voltei da Inglaterra (fiquei 2 semanas entre Oxford e Londres) tive aquela impressão “nossa, como o primeiro mundo é legal”, mas nunca tive vontade de viver na Inglaterra. Totalmente diferente da Austrália onde me senti muito à vontade e tenho certeza que me encaixaria naquele estilo de vida facilmente.

Só um esclarecimento sobre essa viagem que se faz necessário após alguns comentários equivocados. Apesar da viagem ter sido feita para um evento científico, não recebi da universidade NENHUMA ajuda financeira para custear a viagem. Assumi as despesas com: passagens, estadia, alimentação e inscrição no evento. Falo isso porque mais de uma vez eu ouvi - “que maravilha, Austrália, com tudo pago pela universidade...” e realmente foi tudo pago, mas eu mesmo paguei do meu bolso (em 12 vezes).

Próximos posts pra encerrar a série Austrália - Meios de transporte em Sydney e o Estilo de vida do pessoal na cidade.

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