Aqueles que iniciam uma rotina de exercícios, com qualquer finalidade (saúde, estética ou competição), em algum momento experimentam dor. Pode ser uma leve dorzinha no dia seguinte ao acordar após ter corrido 5 minutos pela primeira vez, pode ser uma dor que imobiliza todo lado direito após jogar tênis depois de 15 anos parado, dores que surgem após o esforço, geralmente normais e consequência da falta de condicionamento. Mas existe outro tipo de dor, que costuma acompanhar aqueles que levam a atividade mais a sério, são as dores que ocorrem durante a atividade.
Alguns chegam a dizer que a dor é um “bom sinal”, quer dizer que “está fazendo efeito”, mas infelizmente a dor geralmente é a única maneira de o nosso corpo dizer - está na hora de parar, tem algo errado, vai ver o que é. O bom senso manda que se pare a atividade e que se compreenda a origem/causa da dor. Muitas vezes é muito claro o que gera a dor - ir além do limite, equipamento errado, técnica incorreta, uma dor do lado do joelho ao correr em descidas, ou simplesmente cansaço e falta de recuperação. Mas e quando a dor se manifesta de maneira que não nos dá “pistas” do que está errado? Por exemplo, uma atividade cotidiana que de repente (e somente às vezes) causa enorme dor. Vou ilustrar uma situação assim, usando um problema de saúde que me causa muita dor, e que não tem cura definitiva, apenas estratégias de combate, que não curam, mas diminuem as crises.
No verão de 2000, durante um Aquathlon (natação + corrida), liderei a prova na natação, saí em 1º da água e iniciei a corrida. A prova tinha 5 km de corrida, e nessa época correr 10-15 km para mim era algo corriqueiro. Mas nessa prova, ao sair da água, com menos de 5 minutos de corrida minhas duas coxas “empedraram”, um espasmo muscular similar à cãibra, que me fez ir ao chão com tanta dor. Completei a prova caminhando e com muita dor (que demorou uns 3 dias para passar totalmente). Depois desse episódio as crises seguiram acontecendo, sempre na corrida e muito seguido em competições.
A dor não tinha lugar certo, poderia ser em qualquer lugar da frente da coxa, glúteo ou na panturrilha. Entre as bobagens que eu ouvia dos entendidos (inclusive médicos) se destacavam as seguintes: “é muito treino, tens que descansar”, “é falta de treino”, “é falta de banana”, “é a tua pisada, troca de tênis”, “deve ser um problema metabólico”, “é psicológico, nervosismo em competição”, etc.
Mas o tempo foi passando e as crises de dor começaram a surgir em outras situações, como pedalando e até mesmo caminhando. A única pista que eu tinha é que eu passava por épocas de 5-10 dias em que estava suscetível à dor. Se tudo estava bem eu poderia fazer qualquer coisa, correr 2 horas sem problema, se estava no meio de uma crise não conseguia correr nem 5 minutos.
Após sete anos convivendo com isso, em uma conversa com um médico amigo veio a ideia - quem sabe uma ressonância na coluna? Com todos esses anos de natação é difícil que tenhas algo errado na coluna, mas quem sabe. E com o exame veio o diagnóstico: discopatia degenerativa e protusão discal em L5-S1.
A dor era um estímulo nervoso causado por compressão de um grupo de nervos na saída da coluna. Na imagem dá pra ver que o disco entre as vértebras (L5-S1) está desidratado (mais escuro) e muito achatado (muito mais fino do que os acima), ele perdeu a função de “amortecedor” entre uma vértebra e outra. Ali, na saída dos nervos, qualquer “beliscada” que dê nos nervos resulta nessa dor que eu sinto. O fato de o disco estar desgastado aumenta a instabilidade vertebral e em alguns períodos, qualquer esforço físico pinça a inervação. É como um fio desencapado que de vez em quando encosta e “dá choque”, no meu caso os choques são esses espasmos musculares nos membros inferiores.
O principal problema é não ter como saber quando isso ocorrerá. Isso não tem cura. Provavelmente eu teria o problema de qualquer maneira pela morfologia da minha coluna, mas o processo foi acelerado por uma limitação minha, a falta de flexibilidade.
O fato de eu ser pouco flexível fez com que a exigência sobre a coluna para manter a posição do ciclismo no triathlon (deitado sobre o guidão) fosse machucando o disco intervertebral ao longo dos anos. O ciclismo não causa isso, nem a falta de flexibilidade, mas as duas coisas juntas são um problema. O fato de ficar muitas horas sentado é muito ruim também.
Perguntei para vários profissionais: devo parar com alguma das minhas atividades?
Resposta unânime: não. Se ficares parado vai ser pior, te cuida e tem consciência do teu problema, não ganha peso e mantém a musculatura postural em dia. De resto, só te acostuma porque isso vai te acompanhar por muitos anos.
O que fazer? Reforço muscular (costas e abdômen), aumentar a flexibilidade, não nadar borboleta, modificar alguns exercícios na musculação, dormir com travesseiro nas pernas, cuidar da coluna no dia-dia, evitando torções e cargas desnecessárias, etc. Junto disso tudo, iniciei com quiropraxia em 2008 e os episódios de dor ficaram mais raros, ainda ocorrem, mas pelo menos agora eu sei o que está acontecendo. A pior coisa era não saber a causa da dor.
Ontem, na mesma competição em que senti a dor forte em 2000, tive dores similares, mas fui indo, alongando, caminhando, trotando até que aqueceu e melhorou um pouco. Competições que têm corrida logo após a natação (sem o ciclismo no meio) são piores pra mim porque a mudança de posição da coluna aumenta a chance de ter uma crise. Ontem eu provavelmente teria chegado em 4º lugar se não tivesse dor, cheguei em 8º, mas já estou bem grandinho pra saber que depois da linha de chegada todos são iguais.
De qualquer forma, em relação às dores esportivas a única certeza que se tem é - se está doendo, algo está errado. Pode não ser algo tão sério quanto um problema de coluna, mas a dor é sempre um aviso, um pedido de socorro do corpo, e que, portanto, não deve nunca ser ignorada.