Mr. Domingues

Sempre ouvi que escrevo demais, e-mails longos, cartas intermináveis para namoradas, nunca consegui usar Post-it, enfim, bem ou mal eu gosto de escrever. A intenção é que isso aqui sirva como uma "descarga mental" onde comento fatos, acontecimentos e pensamentos, na verdade, tudo que me der vontade. Sabe quando se vê um filme, lê um livro ou algo no jornal e ficamos com vontade de discutir com alguém sobre o assunto? É pra isso que esse espaço serve, assim eu incomodo menos quem está à minha volta e começo a incomodar anônimos internet afora que queiram ser incomodados. Mas é claro que não vou fugir muito dos meus hobbies, interesses pessoais e profissionais, como saúde, atividade física, esporte, tecnologia e música.

segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

Corrida na gestação - Parte 2
Postagem baseada em uma entrevista minha para uma revista especializada em corridas.

4. Como a corrida pode oferecer perigo para a gravidez, por alguma questão de impacto ou esforço?
O útero é um “ninho perfeito”, o impacto que a mulher gera ao correr não tem como prejudicar o feto. O corpo tem maneiras de “avisar” a mulher quando ela está se excedendo no esforço, sem a necessidade de um monitor cardíaco que soe um alarme.
Os principais cuidados da grávida são com relação às temperaturas altas, desidratação e hipoglicemia, três situações que podem prejudicar o feto de várias formas. Por isso, independente do histórico atlético, as sessões de exercício da grávida não devem exceder muito o tempo de 1 hora. Ela deve evitar as horas mais quentes do dia, usar roupas adequadas e prestar atenção na alimentação (dicas que valem para qualquer atleta, não apenas grávidas). A hidratação deve ser constante e qualquer sinal de alerta como tonturas, dor de cabeça, calafrios, falta de ar e alterações no ritmo respiratório indicam que a atividade deve ser encerrada.
Grávidas devem se exercitar, mas a competição é desencorajada porque quando competimos a adrenalina e a vontade de superação podem fazer com que ultrapassemos o limite do exercício benéfico, indo para a atividade prejudicial.

5. Em quanto tempo a mãe pode voltar aos treinos? Do que essa volta vai depender?
Essa volta depende basicamente do tipo de parto. As mulheres que tiveram o azar de passar por uma cirurgia cesariana com certeza demorarão muito mais para retornar ao exercício (e à vida normal) do que aquelas que fizeram o parto vaginal. Mas até para isso a corrida faz bem, mulheres que são ativas e saudáveis têm muito menos necessidade de cesariana.
Estabelecer um tempo para voltar é equivocado, mas de maneira geral as mulheres que fazem parto normal começam com caminhadas na segunda semana após o parto, podendo aumentar a intensidade das mesmas durante 2-4 semanas e geralmente 6 semanas após o parto começam os primeiros trotes intercalados com caminhadas aceleradas. Mulheres bem condicionadas (e com muita força de vontade) conseguem retornar às competições 3 meses após o parto. Para aquelas que fizeram cesariana segue a mesma progressão (caminhada, trote, corrida), mas tudo ocorre pelo menos um mês mais tarde.
Mesmo entre mulheres que fazem parto normal, às vezes a episiotomia (pequeno corte feito no momento do parto para auxiliar a saída do bebê) pode fazer com que as atividade sejam um pouco adiadas, mas cada caso é um caso. Claro que o retorno é lento e não se pode exigir os tempos de antes de engravidar, mas a progressão é relativamente rápida e, junto com a amamentação, o exercício ajuda a voltar ao peso normal. É um conjunto de fatores, funcionando juntos e que fazem com que se volte ao condicionamento antigo. Como sempre, a mulher vai saber exatamente quando é a hora “dela” voltar a correr. Se eu disser que é com 5 semanas e ela me disser que “nem pensar”, como vou discordar?
Parece brincadeira, mas a volta depende também do pai (ou de alguém para cuidar do bebê), já que durante o exercício alguém precisa cuidar da criança. O suporte familiar pode facilitar ou dificultar o retorno da mãe ao exercício.
Atualmente o mercado brasileiro já conta com carrinhos de bebê com rodas grandes (infláveis como as de uma bicicleta) que são desenhadas para a mãe que pretende caminhar/correr e levar junto seu filho. (cuidado com a exposição solar do recém-nascido)
Muitas mulheres relatam que sair pra se exercitar é relaxante porque elas conseguem “descansar” um pouco da rotina de cuidar de um recém-nascido e conseguem pensar um pouco em outras coisas e nelas mesmas. Excelente para evitar a depressão pós-parto. Só pra esclarecer outro mito antigo – leite materno não perde qualidade com exercício. Sugestão: dar de mamar antes da corrida, aliviando o incômodo dos seios pesados.

6. Alguns estudos indicam que atletas melhoram seu desempenho após serem mães devido ao aumento do volume de sangue e hemácias. É correto fazer tal afirmação?
Primeiro é preciso dizer que a gravidez é de certa forma um “doping” e muitos esportes proíbem grávidas de competir. Para as atletas de resistência como nadadoras, corredoras, remadoras, ciclistas e triatletas a grande vantagem da gravidez é o aumento do volume sanguíneo e das hemácias, que é exatamente o que muitos atletas buscam de forma ilegal com injeções de EPO. A grávida tem essa vantagem durante a gestação e por algum tempo após o parto, mas mudanças significativas em longo prazo ainda não foram demonstradas.
Citando mais uma vez a corredora Paula Radcliffe – “eu estou mais feliz e pessoas felizes correm mais”. É talvez a melhor definição para explicar porque mulheres que tiveram filhos melhoram seu desempenho. Desconheço qualquer pesquisa que tenha mostrado alguma mudança fisiológica após o parto (que dure mais de 6 meses) e que resulte em ganho de performance. Mas o efeito psicológico deve ser levado em conta, muitas mulheres sentem-se realizadas com um filho e isso é um enorme incentivo para a vida em vários sentidos, porque não seria para a corrida também.

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