Mr. Domingues

Sempre ouvi que escrevo demais, e-mails longos, cartas intermináveis para namoradas, nunca consegui usar Post-it, enfim, bem ou mal eu gosto de escrever. A intenção é que isso aqui sirva como uma "descarga mental" onde comento fatos, acontecimentos e pensamentos, na verdade, tudo que me der vontade. Sabe quando se vê um filme, lê um livro ou algo no jornal e ficamos com vontade de discutir com alguém sobre o assunto? É pra isso que esse espaço serve, assim eu incomodo menos quem está à minha volta e começo a incomodar anônimos internet afora que queiram ser incomodados. Mas é claro que não vou fugir muito dos meus hobbies, interesses pessoais e profissionais, como saúde, atividade física, esporte, tecnologia e música.

domingo, 21 de fevereiro de 2010

A origem da dor.
Aqueles que iniciam uma rotina de exercícios, com qualquer finalidade (saúde, estética ou competição), em algum momento experimentam dor. Pode ser uma leve dorzinha no dia seguinte ao acordar após ter corrido 5 minutos pela primeira vez, pode ser uma dor que imobiliza todo lado direito após jogar tênis depois de 15 anos parado, dores que surgem após o esforço, geralmente normais e consequência da falta de condicionamento. Mas existe outro tipo de dor, que costuma acompanhar aqueles que levam a atividade mais a sério, são as dores que ocorrem durante a atividade.
Alguns chegam a dizer que a dor é um “bom sinal”, quer dizer que “está fazendo efeito”, mas infelizmente a dor geralmente é a única maneira de o nosso corpo dizer - está na hora de parar, tem algo errado, vai ver o que é. O bom senso manda que se pare a atividade e que se compreenda a origem/causa da dor. Muitas vezes é muito claro o que gera a dor - ir além do limite, equipamento errado, técnica incorreta, uma dor do lado do joelho ao correr em descidas, ou simplesmente cansaço e falta de recuperação. Mas e quando a dor se manifesta de maneira que não nos dá “pistas” do que está errado? Por exemplo, uma atividade cotidiana que de repente (e somente às vezes) causa enorme dor. Vou ilustrar uma situação assim, usando um problema de saúde que me causa muita dor, e que não tem cura definitiva, apenas estratégias de combate, que não curam, mas diminuem as crises.
No verão de 2000, durante um Aquathlon (natação + corrida), liderei a prova na natação, saí em 1º da água e iniciei a corrida. A prova tinha 5 km de corrida, e nessa época correr 10-15 km para mim era algo corriqueiro. Mas nessa prova, ao sair da água, com menos de 5 minutos de corrida minhas duas coxas “empedraram”, um espasmo muscular similar à cãibra, que me fez ir ao chão com tanta dor. Completei a prova caminhando e com muita dor (que demorou uns 3 dias para passar totalmente). Depois desse episódio as crises seguiram acontecendo, sempre na corrida e muito seguido em competições.
A dor não tinha lugar certo, poderia ser em qualquer lugar da frente da coxa, glúteo ou na panturrilha. Entre as bobagens que eu ouvia dos entendidos (inclusive médicos) se destacavam as seguintes: “é muito treino, tens que descansar”, “é falta de treino”, “é falta de banana”, “é a tua pisada, troca de tênis”, “deve ser um problema metabólico”, “é psicológico, nervosismo em competição”, etc.
Mas o tempo foi passando e as crises de dor começaram a surgir em outras situações, como pedalando e até mesmo caminhando. A única pista que eu tinha é que eu passava por épocas de 5-10 dias em que estava suscetível à dor. Se tudo estava bem eu poderia fazer qualquer coisa, correr 2 horas sem problema, se estava no meio de uma crise não conseguia correr nem 5 minutos.
Após sete anos convivendo com isso, em uma conversa com um médico amigo veio a ideia - quem sabe uma ressonância na coluna? Com todos esses anos de natação é difícil que tenhas algo errado na coluna, mas quem sabe. E com o exame veio o diagnóstico: discopatia degenerativa e protusão discal em L5-S1.
A dor era um estímulo nervoso causado por compressão de um grupo de nervos na saída da coluna. Na imagem dá pra ver que o disco entre as vértebras (L5-S1) está desidratado (mais escuro) e muito achatado (muito mais fino do que os acima), ele perdeu a função de “amortecedor” entre uma vértebra e outra. Ali, na saída dos nervos, qualquer “beliscada” que dê nos nervos resulta nessa dor que eu sinto. O fato de o disco estar desgastado aumenta a instabilidade vertebral e em alguns períodos, qualquer esforço físico pinça a inervação. É como um fio desencapado que de vez em quando encosta e “dá choque”, no meu caso os choques são esses espasmos musculares nos membros inferiores.
O principal problema é não ter como saber quando isso ocorrerá. Isso não tem cura. Provavelmente eu teria o problema de qualquer maneira pela morfologia da minha coluna, mas o processo foi acelerado por uma limitação minha, a falta de flexibilidade.
O fato de eu ser pouco flexível fez com que a exigência sobre a coluna para manter a posição do ciclismo no triathlon (deitado sobre o guidão) fosse machucando o disco intervertebral ao longo dos anos. O ciclismo não causa isso, nem a falta de flexibilidade, mas as duas coisas juntas são um problema. O fato de ficar muitas horas sentado é muito ruim também.
Perguntei para vários profissionais: devo parar com alguma das minhas atividades?
Resposta unânime: não. Se ficares parado vai ser pior, te cuida e tem consciência do teu problema, não ganha peso e mantém a musculatura postural em dia. De resto, só te acostuma porque isso vai te acompanhar por muitos anos.
O que fazer? Reforço muscular (costas e abdômen), aumentar a flexibilidade, não nadar borboleta, modificar alguns exercícios na musculação, dormir com travesseiro nas pernas, cuidar da coluna no dia-dia, evitando torções e cargas desnecessárias, etc. Junto disso tudo, iniciei com quiropraxia em 2008 e os episódios de dor ficaram mais raros, ainda ocorrem, mas pelo menos agora eu sei o que está acontecendo. A pior coisa era não saber a causa da dor.
Dois anos depois do diagnóstico inicial fiz outro exame e a situação parece estável. Ou seja, minha rotina não está piorando o problema e se nada de anormal ocorrer, uma ressonância a cada 5 anos servirá como acompanhamento.
Ontem, na mesma competição em que senti a dor forte em 2000, tive dores similares, mas fui indo, alongando, caminhando, trotando até que aqueceu e melhorou um pouco. Competições que têm corrida logo após a natação (sem o ciclismo no meio) são piores pra mim porque a mudança de posição da coluna aumenta a chance de ter uma crise. Ontem eu provavelmente teria chegado em 4º lugar se não tivesse dor, cheguei em 8º, mas já estou bem grandinho pra saber que depois da linha de chegada todos são iguais.
De qualquer forma, em relação às dores esportivas a única certeza que se tem é - se está doendo, algo está errado. Pode não ser algo tão sério quanto um problema de coluna, mas a dor é sempre um aviso, um pedido de socorro do corpo, e que, portanto, não deve nunca ser ignorada.

8 comentários:

  1. Marlos

    Belo comentário, assim como todos os anteriores.

    Há alguns anos enfrentei um problema na lombar também, decorrente de um deslocamento do disco intervertebral. Fiquei vários meses com essa dor nas costas (às vezes descia até os glúteos). Duas coisas me fizeram sentir melhor: 1) natação 2)musculação (pricipalmente exercícios extensores da coluna ou flexores do joelho).

    Agora também estou enfrentando uma lesão na perna, e vou ter que parar de correr por algum tempo para não agravar o machucado e me recuperar pra voltar a correr sem dor.

    A tua coluna me deu uma injeção de ânimo para isso e espero que sirva de alerta para todos os (tri)atletas.

    PS: Mesmo com esse problema, fizesse uma baita prova no Cassino e, se não fosse isso, com certeza poderias ter garantido o quarto lugar.

    Um abraço,

    Samuel

    ResponderExcluir
  2. Oi valeu seu depoimento pois estou a 5meses me cuidando de uma protusão na L5,e ja estava desanimando,pois não estou praticamente fazendo atividade fisica alguma,pois todas as vezes q vou faze musculação sinto dor, to um pouco com medo,pois foi na musculaçao fazendo agachamento q me machuquei obrigada e até mais

    ResponderExcluir
  3. Sou Dentista pesquisador da relação da oclusão dos dentes com a dor musculoesquelética. Atendo pacientes com dor na coluna, que ficam aliviados após o reposturamento da mandíbula com a maxiala, ativando o impulso nervoso miorrelaxante ao corpo,fazendo a dor desaparecer.
    Entretanto, esta terapeutica deverá ser integrada com a medicina, fisioterapia e psicologia. Meu nome: Rafael Abate e-mail aliviognatoneural@terra .com.br

    ResponderExcluir
  4. Puxa, parece que li um relato meu sobre isso.
    Estou passando pelo mesmo problema...fiz natação durante algum tempo e comecei musculação há alguns meses...detectei escoliose há dois anos atrás mas com a falta de tempo não consegui continuar a fisioterapia...resultado foi muitas dores e, após uma ressonância, a discopatia degenerativa.

    O que me deixa mais triste é que, por incrível que possa parecer, tenho apenas 19 anos. Estou fadada a uma vida desde cedo de cuidados especiais...fazer o que. Rs

    Abração, ótimo depoimento e sucesso!
    Kalina.

    ResponderExcluir
  5. Olá, caro Marlos.
    Seu texto me deu uma injeção de ânimo!
    Tenho exatamente o mesmo problema na coluna que o seu, com a diferença das formas de manifestação da dor.
    Não sou triatleta, mas sim amante de corridas e musculação. Participo periodicamente de corridas de 5, 10, 15 e 21k, na minha cidade. Mas este ano, a partir de fevereiro, mais especificamente, comecei a ter dores e inchaço no lado direito da coluna lombar, que me acompanham até agora.
    Semana passada, então, após correr uma meia maratona, foi a gota d'água. As dores se amplificaram de maneira quase insuportável.
    Então fui a um ortopedista, amigo meu, que pediu uma ressonância, cuja imagem saiui bem parecida com essa da tua coluna.
    Agora estava me batendo o desespero: será que vou ter que parar de correr, fazer atividades físicas, não vou poder carregar mais minha filhinha recém nascida?
    Tenho feito fisioterapia, mas percebo que ela tem sido apenas um paleativo momentâneo. No dia seguinte as dores e o inchaço voltam.
    Daí comecei a fazer alongamentos por conta e tenho tentado corrigir minha postura, cuidar mais ao carregar peso e fazer movimento giratórios, etc, etc, além de já ter feito uma sessão com um quiropraxista que me deixou muito bem, ao dia seguinte.
    Então, percebo, por tudo isso, que estou na mesma situação que você, e que não vou ter que parar com as minhas atividades físicas, apenas readaptá-las.
    Obrigado por compartilhar sua experiência, no seu blog. Embora eu ache que você já deve tê-lo abandonado. Afinal, este seu texto é de 2010!
    Saudações de um corredor amador, que preza exercícios, saúde e qualidade de vida!

    ResponderExcluir
  6. Olá,

    Descreveu exatamente o problema que tenho e me ajudou muito na questão motivacional.
    Sou praticante de ciclismo e corrida. Recentemente fui diagnosticado com discopatia degenerativa L3-L4 e protusão discal. Só depois de um ano sentido dores que o médico solicitou uma ressonância magnética. O grande problema é que alguns médicos parecem que não acreditam no que estamos sentindo. Tomei muitos medicamentos para tratar uma inflamação sem saber a origem.

    Grande abraço!

    ResponderExcluir
  7. Fique mais tranquilo e motivado, então!
    Depois de quase dois anos de atividades de fortalecimento do CORE, hoje me vejo livre de dores.
    Além de exercícios, tomei, por mais de 1 ano, um suplemento de Condroitina + Glucosamina + Mn, que vi, em um artigo científico, ter poderes de "reconstituição" das cartilagens dos discos. Acredito que isso também haja auxiliado muito.
    Abraços.

    ResponderExcluir
  8. Tenho uma ressonância parecida com a sua. Trabalhei sentado a vida toda e as crises vieram quando eu praticava passeios de mountain bike. Estou lutando há 5 anos contra a dor e cada vez está mais difícil. Já tentei Pilates, funcional, acupuntura, bloqueios e por aí vai. Quase não consigo mais correr. Cada dia estou mais perto da cirurgia de artrodese indicada pelos ortopedistas e que tanto tenho evitado.

    ResponderExcluir